CNE DEFENDE FUSÃO DE CICLOS



Estudo do CNE defende fusão do 1º e 2º ciclos para evitar «transições bruscas»

Um estudo do Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda a fusão dos 1º e 2º ciclos do ensino básico para acabar com «transições bruscas», com apenas um professor, progressivamente apoiado por outros docentes em pelo menos duas áreas

Segundo o estudo «A Educação das crianças dos 0 aos 12 anos», este ciclo de seis anos «visaria neutralizar as transições bruscas identificadas ao nível da relação dos alunos com o espaço-escola, as áreas e os tempos de organização do trabalho curricular, a afiliação dos professores, o seu papel de aluno e com o desenvolvimento gradual das competências esperadas».

Por outro lado, recomenda-se para este ciclo o regime de monodocência com progressiva co-adjuvação, pelo menos em duas áreas, uma mais voltada para as ciências e outra para as letras.

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«Este modelo permitiria articular a exigência da competência disciplinar face ao crescente desenvolvimento do conhecimento sem relegar para um plano secundário a importância do vínculo pedagógico, da relação de pessoalidade e do conhecimento interpessoal que a actual organização do ensino desestabiliza com a entrada do aluno no 2º ciclo do ensino básico»,

lê-se no documento.

Isto porque, analisando a situação actual, os autores constatam que existe um contraste violento e repentino entre o regime de monodocência do 1º ciclo e o regime de pluridocência do 2º, «contraste que é acentuado e intensificado pelas diferentes lógicas organizativas que estruturam o trabalho escolar».

«O contraste acentua-se ainda pela diferença de cultura profissional entre os professores do 1º ciclo e do 2º ciclo. Enquanto que os primeiros se assumem como professores de crianças cuja missão se centra na promoção de aprendizagens fundamentais por parte dos alunos, os segundos assumem-se primeiramente como professores de uma disciplina escolar», lê-se no estudo.

«Ou seja, para os primeiro o que interessa é que os alunos aprendam, enquanto que para os segundos o que interessa é que a sua disciplina seja aprendida. Para os primeiros o foco são os alunos, enquanto que para os segundos o foco é a disciplina escolar», acrescenta.

Em entrevista à Agência Lusa em Fevereiro, a ministra da Educação […] explicou que as escolas nunca puseram em prática um mecanismo que permitia que um só professor leccionasse um conjunto de disciplinas à mesma turma, como Matemática e Ciências ou Língua Portuguesa e Inglês, por exemplo, apesar de o currículo prever essa possibilidade.

«Na prática, o que acontece é que cada um dos espacinhos é preenchido por um professor e é isso que dá lugar à situação de os alunos do 2º ciclo conhecerem, por exemplo, 16 professores», criticou Maria de Lurdes Rodrigues, defendendo a necessidade de estimular as escolas para que façam uma concentração das áreas disciplinares de forma a que os alunos possam ter uma visão mais integrada do conjunto das disciplinas.

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O estudo reconhece, no entanto, riscos com a fusão dos dois primeiros ciclos do básico: uma possível descoordenação das equipas multidisciplinares e uma eventual influência disciplinar e académica dos actuais professores do 2º ciclo (alunos dos 06 aos 09 anos) sobre os do 1º (10 e 11 anos), entre outros.

O documento recomenda ainda o alargamento dos apoios destinados às crianças dos zero aos 03 anos de idade, a profissionalização das amas, uma melhor oferta de ocupação de tempos livres e uma articulação entre serviços sociais e serviços educativos que «ultrapasse a tradicional associação de serviços de carácter social às populações mais carenciadas e de serviços educativos às mais favorecidas».

[…]

Toda a notícia no Sol.

A notícia pode também ser lida no Público, de onde retirámos este comentário:

19.05.2008 – 18h08 – Pinóquio, Neverland

Claro o CNE, como aliás já havia referido anteriormente, é composto por iluminados! Nunca ninguém pensou nestas possibilidades…. realmente, neste país e com este governo, todos os idiotas têm voz! Pois, pois… Na realidade, se existisse uma fusão entre os dois ciclos, teríamos uma disparidade entre as idades iniciais dos 1º e dos segundos, concordo muito mais que se aproveite um professore de matemática e ciências, para leccionar a uma turma ambas as disciplinas, ou Português e Inglês do que o que nos é proposto pelo CNE; Realmente o estudo revela um erro que é a maneira como se posicionam os professores de 2º ciclo, que se focam na disciplina e não no aluno… agora, alunos do 1º ano com mais do que um professor, coitados, muitos deles ainda hoje, volta meia volta choram, como seria se tivessem que aguentar a falta de personalização a que estão sujeitos quando abandonam o 1º ciclo. Claro que os alunos de primeiro ciclo são protegidos ao máximo pelos seus professores… Também as suas idades assim obrigam! Já basta os iluminados que temos: – sócrates, M.ª L Rodrigues, Valter Lemos, Margarida (qualquer coisa) DREN, não precisamos de mais… Vão para casa Srs. do CNE, ver telenovelas.

E podemos dizer que as culturas profissionais do 1º CEB e do 2º CEB são diferentes, por vezes antagónicas, originárias de formações com origens e tradições históricas diferenciadas e traduzidas em representações distintas sobre a educação e a profissionalidade docente. O professor do 1º CEB é um professor que pensa na criança e nas suas aprendizagens estruturantes; os professores do 2º CEB pensam fundamentalmente na sua disciplina e no seu ensino. Como afirma Natércio Afonso, “para os primeiros o que interessa é que os alunos aprendam, enquanto que para os segundos o que interessa é que a sua disciplina seja aprendida”. Poderemos dizer que se trata da influência da formação inicial, historicamente separada e com distintos referenciais de forte tradição.

In Relatório do CNE, A Educação das Crianças dos 0 aos 12 Anos, p. 119

Comentário

Esta é forte demais! Então as diferenças culturais entre os professores do 1º CEB e os professores do 2º CEB é que os primeiros estão interessados em que os alunos aprendam e os segundos apenas se interessam que os alunos aprendam a sua disciplina?

Depreende-se destas palavras que a cultura do professor do 1º CEB é melhor do que a cultura do 2º CEB e por aí fora. Será por haver ainda alguns professores do 2º CEB que têm uma formação científica de base universitária complementada por um estágio pedagógico? Mas esses são cada vez mais raros no 2º CEB! Há quase vinte anos que as Escolas Superiores de Educação formam professores para os 1º e 2º CEB! Seguindo esta lógica, o melhor seria transformar todo o ensino num enorme jardim-de-infância. Esta afirmação encerra uma visão de escola e de educação: a defesa de uma escola sem conteúdos e onde a transmissão do legado civilizacional, seja ele cultural, tecnológico, artístico ou científico, se dilua numa polifonia de funções sociais, assistenciais e cívicas. É a defesa do inócuo e vazio conceito de escola das competências ou seja lá o que isso for. Alguém sabe o que é? Encerra, também, um novo conceito de professor: um profissional que presta cuidados sociais e assistenciais. Não admira, por isso, que a ministra da educação veja com apreço a divulgação deste relatório. Veio mesmo a calhar! E o paradigma de escola e de professor que nele está plasmado é igualzinho ao que a ministra da educação tem vindo a implementar nestes últimos três anos.

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