Goldman Sachs Toma Oficialmente Posse da Presidência do BCE

Mário Draghi, antigo Presidente da Goldman Sachs Europa, toma hoje posse na presidência do Banco Central Europeu. Draghu presidia ao Banco de investimentos americano no momento em que este, nos anos 2000, ajudou a Grécia a mascarar as contas públicas. O seu papel vai ser o de preservar os interesses dos bancos na atual crise Europeia.
Podíamos até aqui interrogarmo-nos sobre as razões pelas quais o BCE e Jean-Claude Trichet se opunham de modo virulento – mesmo contra a Chancelaria alemã – a toda e qualquer ideia da reestruturação da dívida Grega.
Esta atitude parecia incompreensível, dado que todos os analistas, incluindo os economistas dos bancos, concordavam em considerar que a Grécia não pode cumprir as suas obrigações de dívida na atuais condições contratuais. A inevitabilidade de um reescalonamento, mesmo uma anulação parcial, parece ser consensual. Querer atrasar a reestruturação não fará mais do que agravar o desgaste económico e social provocados pelos planos de austeridade brutais e impopulares impostos sobre os Gregos.
A nomeação de M. Draghi clarifica as coisas. O BCE defende não os interesses dos cidadãos e contribuintes europeus, mas o interesse dos bancos. Um estudo britânico citado ontem no Les Echos tem o mérito de quantificar claramente o processo em curso: este estudo indica que graças ao «pacote de ajuda» da Grécia e ao «mecanismo europeu de estabilidade» posto em prática pelo BCE, FMI e UE, «a fasquia de dívida Grega nas mãos de contribuintes estrangeiros passará de 26% para 64% em 2014. Isto quer dizer que a exposição de cada agregado familiar da zona euro passará de 535 euros hoje para 1450 euros.»
O «salvamento» da Grécia é assim uma gigantesca operação de socialização de prejuízos do sistema bancário. Trata-se de transferir o essencial da dívida Grega – mais também da dívida Irlandesa e Espanhola – das mãos dos banqueiros para as dos contribuintes. Será então possível passar os custos da inevitável reestruturação destas dívidas para os orçamentos públicos Europeus.
Como dizem os Indignados espanhóis, «esta não é uma crise, é uma fraude!» O Parlamento Europeu votou ontem o «pacote de governação económica» que reforma o pacto de estabilidade, reforçando as restrições sobre os orçamentos nacionais e as sanções contra os países em infração. O Conselho europeu reúne-se hoje e amanhã para completar os trabalhos. E não será a próxima nomeação de Christine Lagarde como cabeça do FMI que reduzirá a influência dos bancos sobre as instituições financeiras internacionais – bem pelo contrário.
Felizmente, as resistências sociais e de cidadania cruzam-se por toda a Europa. Governar para os povos ou governar para a finança? A resposta é hoje clara: será preciso que os povos europeus retomem o poder para juntos construirem uma outra Europa. As Attac de toda a Europa organizam de 9 a 13 de Agosto uma Universidade Europeia de movimentos sociais em Frebourg, na Alemanha. Será neste verão um dos locais principais de coordenação das resistências e de construção de das alternativas europeias.
Tradução de Tiago Neves

Feios, PIGS e infecciosos- Manuel António Pina

Feios, PIGS e infecciosos

Afinal a bactéria que tem andado a infectar e matar alemães e viajantes chegados do Norte da Alemanha é, revelou a Organização Mundial de Saúde, uma nova estirpe da familiar “escherichia coli”. Os pepinos espanhóis (desta vez a coisa demorou menos tempo a apurar do que sucedeu no caso do incêndio do Reichstag) foram só o bode expiatório das autoridades alemãs.

Um bode expiatório, como os comunistas em 1933, perfeitamente credível para o alemão comum, já que a Espanha é, com Portugal, Irlanda e Grécia, um dos tenebrosos PIGS, os países feios, porcos, maus, preguiçosos e gastadores da periferia do “lebenraum” comunitário da senhora Merkel cujos problemas a impecavelmente asseada Banca alemã “ajuda” a resolver a generosos juros usurários enquanto se ajuda não menos generosamente a si mesma.

Países que não sabem governar-se e que, por isso, tem que ser a sempre esforçada Alemanha, por interposta UE, a governá-los e, como na Grécia, a cobrar-lhes os impostos e encarregar-se da privatização das suas empresas e serviços públicos (e a altura chegará em que os próprios governos dos países “ajudados” terão que ter o “agreement” do chanceler de serviço em Berlim).

A declaração de inocência dos pepinos PIGS faz supor que – disse-o à BBC Reinhard Burger, presidente do Instituto Koch – possa nunca vir a ser descoberta a origem do surto infeccioso. Principalmente se a origem for, digo eu, a carne alemã.

Rehn: Países da Europa central e do norte “cansados” de apoiar resgates , e nós fartos de agiotagem e de compadrios para com os donos da banca

O comissário europeu dos Assuntos Económicos e Monetários disse esta quinta-feira que o apoio aos resgates, por parte dos países do Norte e do Centro da Europa, está a desvanecer-se.

O comissário europeu dos Assuntos Económicos e Monetários admitiu hoje que países da Europa Central e do Norte – alguns dos maiores contribuintes dos pacotes de ajuda – estão a começar a ficar cansados de apoiar os resgates aos países em dificuldades. “Nós temos uma espécie de fadiga na Europa Central e do Norte – na Alemanha, na Finlândia, na Holanda, e em outros países – enquanto temos uma espécie de cansaço de reformas em alguns países da Europa do Sul”, adiantou Olli Rehn citado pela Bloomberg.

“A nossa principal tarefa é agora perceber como podemos criar pontes entre estas visões políticas distintas dentro da Europa” para que “não estejamos a debater-nos com numerosas linhas vermelhas que tornam as decisões impossíveis em tempos de crise”, acrescentou o responsável europeu, citado pela mesma fonte.

O comissário salientou ainda que até agora tem sido possível tomar decisões “nos momentos críticos” mas isso não pode ser tomado como garantido para o futuro.

O “cansaço” que fala o comissário europeu surge depois de, no espaço de um ano, a Zona Euro ter resgatado três países. Se, por um lado, no caso da Irlanda os últimos dados dão conta que o acordo estabelecido com a troika está a ser cumprido, e a segunda “tranche”- no valor de 3 mil milhões de euros – foi desbloqueada, no caso da Grécia não se pode considerar o mesmo.

Atenas enfrenta ainda sérias dificuldades e anunciou recentemente um novo plano de austeridade que, contará também, com um plano de privatizações. A população saiu à rua para contestar este novo “aperto” naquela que foi a segunda greve geral de 2011. Dada a situação helénica, alguns responsáveis da Zona Euro já admitem uma “reestruturação ligeira” da dívida de Atenas e assumem como difícil que o país consiga ir aos mercados financeiros no próximo ano para se financiar, como estava previsto no pacote de ajuda financeira estabelecido em Maio do ano passado.

OS lacaios de Merkel: CIP defende redução de férias para 22 dias

O presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), António Saraiva, considera que os trabalhadores portugueses devem voltar a ter 22 dias de férias como forma de diminuir o custo unitário do trabalho e aumentar a competitividade.

“Advogamos que deveríamos retomar os 22 dias” de férias, em vez dos 25 atuais, disse à Lusa António Saraiva.

“Já quando se decidiu aumentar de 22 para 25 dias úteis premiando aqueles que não faltam considerámos a medida errada porque todos nós temos a obrigação de trabalhar mais e melhor”, explicou, criticando que se premeie “uma coisa que deve ser natural, que é a comparência ao trabalho”.

Para António Saraiva, a posição da chanceler alemã, Angela Merkel – que exigiu a unificação da idade da reforma e dos períodos de férias na União Europeia e criticou os sistemas vigentes na Grécia, Espanha e Portugal — é “natural”.

“Quando somos obrigados a pedir ajuda externa perdemos alguma da nossa liberdade de ação e é natural que os nossos credores e, desde logo, a Alemanha, venham tentar impor condições diferentes daquelas a que estamos habituados”, referiu.

No entanto, ressalvou o presidente da CIP, “cada país tem especificidades próprias e instituições próprias”.

Ainda assim, António Saraiva acredita que a redução de férias é uma forma de tornar a economia portuguesa mais competitiva.

“A economia portuguesa tem de se tornar mais competitiva e os custos unitários do trabalho têm que ser melhorados, quer pelo lado da Taxa Social Única, quer pelo tempo de trabalho”, defendeu.

Para António Saraiva, a solução deve passar “por um ‘mix’ até para não ser necessário compensar com penalizações fiscais para diferenciar positivamente alguns sectores e empresas mais expostos à concorrência internacional”

 Angela Merkel também defendeu um adiamento da idade de reforma nos países com maior crise financeira, lembrando que a Alemanha passará gradualmente dos 65 para os 67 anos, entre 2012 e 2029.

Uma posição que o presidente da CIP diz ser “uma velha pretensão da União Europeia”, mas que António Saraiva critica.

“Não posso deixar de lamentar que a UE queira nivelar algumas práticas e regras mas feche os olhos a outras, como é o caso da harmonização fiscal”, disse.

“O programa de ajustamento deve ser socialmente repartido de forma equitativa e justa. Não se queira adotar em Portugal as regras da Alemanha, porque a Alemanha tem taxas de juro de 1 por cento e nós suportamos 9 e 10 por cento”, concluiu.

Pura Hipocrisia , afinal as medidas de austeridade são para a Alemanha

O comissário europeu dos assuntos financeiros, Olli Rehn, considerou hoje o empréstimo de 78 mil milhões de euros a Portugal “também necessário para proteger a retoma económica na Alemanha e as poupanças dos alemães”.

Em entrevista ao matutino Die Welt, Rehn afirmou que “ajudando Portugal, com critérios rigorosos, mas também com condições realistas, protege-se, simultaneamente, a retoma económica na Alemanhe a as poupanças dos alemães”.

O empréstimo, aliás, “não seria possível sem boa vontade da Alemanha“, sublinhou ainda o comissário europeu, no dia em que os ministros das Finanças do eurogrupo se reúnem em Bruxelas para tomar a decisão final sobre a assistência financeira a Portugal.

PAck da troika: Austeridade empurra salários e consumo para queda histórica

Nas suas previsões de Primavera, a instituição aponta para dois anos de recessão e um desemprego recorde. As medidas de austeridade já aplicadas e as que decorrem do acordo de ajuda externa vão ter um impacto enorme na vida dos portugueses, atirando o consumo privado para a maior queda de sempre e os salários reais para o maior recuo desde 1984, quando o FMI também interveio em Portugal.

Os gastos das famílias vão ressentir-se com os cortes salariais, os aumentos de impostos, a inflação, a subida das taxas de juro e o desemprego. A CE prevê que, em 2011, o consumo privado recue 4,4 por cento e outros 3,8 em 2012. A verificar-se, será a maior queda deste indicador desde que há registos dos dados. Os salários vão também ressentir-se com as medidas de austeridade, desde logo devido ao corte de 5 por cento na massa salarial dos funcionários públicos.

De acordo com as previsões da CE, os salários reais vão descer 3,6 por cento este ano e outros 1,9 em 2012, naquela que é a maior queda entre os países da zona euro. As quedas nominais são ainda maiores (7 e 3,9 por cento, respectivamente), visto que Bruxelas está a prever uma inflação de 3,4 e 2 por cento em Portugal.

A queda em 2011 não surpreende, devido ao corte salarial na função pública, mas o novo recuo das remunerações em 2012 espelha já que a economia fará um ajustamento salarial por baixo. As medidas de flexibilização laboral acordadas com a União Europeia (UE) e o FMI, a facilitação do despedimento e o nível recorde de desemprego irão pressionar os vencimentos dos novos contratados, reduzindo o nível geral das remunerações.

Tanto para 2011 como para 2012, as previsões da CE representam a maior queda dos salários reais desde 1983 e 1984, quando estes recuaram 5,7 e 9,2 por cento, respectivamente, na sequência da intervenção do FMI (ver texto em baixo).

No sector público, as despesas com salários vão estar, este ano e no próximo, ao nível mais baixo dos últimos 20 anos e os gastos com prestações sociais (subsídio de desemprego, abonos de família ou o rendimento social de inserção) vão sofrer uma redução, na sequência das medidas de austeridade já previstas no Orçamento do Estado de 2011 e exigidas pela própria troika. A CE prevê que, este ano, os encargos do Estado com as transferências sociais atinjam o nível mais baixo desde 1999 (ver infografia). Esses encargos, em percentagem do PIB, vão mesmo registar em 2011 a maior descida desde 1983 (-1,3 por cento).

Portugal pior que a Grécia

O quadro decepcionante traçado por Bruxelas começou ontem a materializar-se, depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmar que Portugal entrou já em recessão no primeiro trimestre. E uma recessão mais profunda do que se previa.

O Produto Interno Bruto (PIB) nacional recuou 0,7 por cento entre Janeiro e Março, depois de ter já resvalado 0,6 por cento nos últimos três meses do ano passado. Portugal entrou, assim, oficialmente, em recessão técnica (conceito que define dois trimestres consecutivos de contracção do PIB), reflectindo uma acentuada retracção da procura interna, sobretudo das famílias.

Para este ano, as previsões da CE são de uma contracção do PIB de 2,2 por cento, que se prolongará para 2012, com nova queda de 1,8. Mas, enquanto este ano ainda nos podemos congratular por a Grécia estar em pior situação (com uma queda da economia de 3,5 por cento), em 2012 a economia helénica vai descolar e deixar Portugal como o único país em recessão da zona euro e da UE.

Tal como o ministro das Finanças já tinha anunciado, a taxa de desemprego vai atingir um recorde histórico no próximo ano – 13 por cento -, depois de chegar aos 12,3 este ano. Só a Espanha, a Grécia, a Irlanda e a Eslováquia estarão em pior situação.

A queda recorde do consumo privado vai empurrar a procura interna (que reúne os gastos das famílias, o consumo público e o investimento) para o maior recuo de sempre este ano (5,7 por cento) e para o segundo maior em 2012 (4,7 por cento). Os gastos do Estado vão registar uma queda acumulada de 10,5 por cento até 2012, enquanto o investimento público vai deslizar 17,3 por cento nestes dois anos.

De acordo com a CE, este recuo nos gastos do Estado irá afectar o investimento privado, que deverá encolher 10 por cento em 2011 e 7,5 por cento em 2012. Os únicos contributos positivos para a economia virão das exportações e das importações. As vendas ao exterior vão aumentar 6,2 por cento este ano e 5,9 em 2012, ainda assim abaixo da performance do ano passado (ver infografia).

Já as compras ao exterior vão ressentir-se com a contracção do consumo privado e diminuir 5,3 e 2,8 por cento, em 2011 e 2012. Estes valores ficam, contudo, abaixo da redução das importações registada em 2009 (-10,6 por cento, na sequência de uma contracção do PIB de 2,5 por cento) e também dos valores registados aquando da última intervenção do FMI em Portugal, em 1983/1984.

Euro a duas velocidades

Enquanto Portugal e outros países periféricos continuam a desiludir, as maiores economias europeias estão a ganhar fôlego, acentuando o quadro de uma Europa a duas velocidades. A CE reviu ontem em alta ligeira as suas previsões para a zona euro, apontando para um crescimento de 1,6 por cento este ano e 1,8 por cento no próximo. Os 27 Estados da UE deverão crescer, em média, 1,8 por cento em 2011 e 1,9 em 2012.

À semelhança das taxas de crescimento, o mercado laboral europeu oscila entre a taxa de desemprego de 20,6 por cento projectada para Espanha e os 4,2 por cento na Holanda. A inflação deverá atingir quase 3 por cento na UE este ano e 2,6 por cento na zona euro, aliviando em 2012 para 2 e 1,8 por cento, respectivamente.

As agruras de hoje da Grécia serão as de Portugal no futuro com o pacote da troika

As consequências de uma reunião não tão secreta

por Euro Intelligence

O nosso ponto de vista foi sempre que a resolução da crise consistiria num refinanciamento (rollover) permanente. Quando confrontados com a questão de permitir o incumprimento da Grécia ou concordar com mais um programa (irrealista), os ministros europeus das Finanças aceitaram esta última opção.

Numa reunião secreta no Luxemburgo, os ministros das Finanças de um subconjunto de países da eurozona encontraram-se para discutir o futuro da Grécia e, segundo o FT , alcançaram um consenso de que querem recorrer a um pacote inteiramente novo, pois o actual programa da Grécia, o qual prevê um retorno aos mercado em 2012, não é realista.

A Grécia precisa obter €25 a €30 mil milhões no próximo ano. O FT informa que o European Financial Stability Facility (EFSF) pode comprar dívida grega em mercados primários, em complemento de uma reestruturação voluntária para “rolar” (roll over) dívida que será devida em 2012. Responsáveis parecem ter descartado com firmeza qualquer reestruturação involuntária da dívida, a qual criaria mais problemas do que resolveria. O ministro grego das Finanças foi convidado à reunião de modo a que responsáveis pudessem enfatizar-lhe a importância de mais austeridade e privatização.

Na sexta-feira à noite, a revista Der Spiegel informou que a Grécia havia considerado uma saída da eurozona e revelou que uma tal teria lugar, com Wolfgang Schäuble tendo um estudo na sua pasta sobre porque uma saída grega far-se-ia a um custo proibitivo – para a Grécia mas também para a própria eurozona. A notícia deu lugar a negações frenéticas de responsáveis da UE e provocou uma nova derrota do euro, o qual declinou de um pico de US$1,49 para US$1,43 em dois dias. Responsáveis da UE primeiro tentaram negar que uma tal reunião viesse a ocorrer, mas quando se tornou impossível sustentar isso, eles simplesmente negaram que os ministros discutissem uma reestruturação da dívida, muito menos uma saída.

“COMENTÁRIOS ABSURDOS DE JOSÉ SÓCRATES”

Wolfgang Münchau escreve na sua coluna no FT que o fracasso em ser capaz de organizar uma reunião secreta simboliza a dificuldade em administrar uma união monetária (e especialmente um programa de refinanciamento de dívida) com um grupo de decisores executivos tão diversos. Disse ele não acreditar em quaisquer pronunciamentos oficiais de qualquer responsável da UE. Afirmou que os comentários absurdos de José Sócrates de que obteve um acordo melhor do que os gregos e os irlandeses também são muito típicos para o programa de acção colectiva da eurozona. E que vê cada vez mais evidências de uma bifurcação – uma situação dentro de poucos anos nesse caminho em que estados membros da eurozona terão de decidir se saltam para dentro de uma união política ou saltam para fora de uma união monetária.

Juan Ignacio Crespo escreve em El Pais que uma saída da eurozona seria o equivalente a uma outra crise financeira global. Se a Grécia saísse, o sistema bancário do país entraria em colapso e o país seria confrontado com uma implosão económica e social. E a crise imediatamente propagar-se-ia ao país seguinte da eurozona. A Europa neste ponto suspenderia tanto o mercado como o acordo de Schengen.

Os principais jornais alemães estão divididos sobre os méritos de um segundo pacote de resgate para a Grécia. Enquanto os diários económicos Financial Times Deutschland e Handelsblatt endossam a ideia de má vontade o Frankfurter Allgemeine Zeitung e o Bild estão em franca revolta. Holger Steltzner , do FAZ, destaca que a UE e o FMI não têm quaisquer meios de aplicar pressão sobre a Grécia uma vez que excluem a reestruturação da dívida grega e a saída da Grécia da eurozona. O colunista Hugo Müller-Vogg, do Bild, argumenta que se bem que o euro seja indispensável para a Europa, a Grécia não é. Se a Grécia quisesse deixar a zona da divisa ninguém deveria impedi-la. “Isso seria caro para o contribuinte europeu”, argumenta ele. “Mas um final caro é melhor do que infindáveis pacotes caros de resgate”.

PSD revela seu plano económico pelo lado da oferta

Passos Coelho revelou o plano económico do seu partido com o objectivo de mudar o modelo económico de Portugal. A principal característica é uma redução de encargos sociais dos negócios em 4 pontos percentuais, de 23,75% para 19%, financiando por cortes estruturais na despesa governamental. Isto inclui cortes no período que dá direito a benefício de desemprego; um corte no número de Secretarias de Estado em 30% e de conselheiros à metade; reduções em entidades públicas em pelo menos 15%; um serviço de recrutamento independente para postos no governo e o fim de prestigiosos projectos de infraestrutura, tais como serviços ferroviários de alta velocidade. O Jornal de Negócios tem os pormenores. O presidente Cavaco Silva disse que um corte fiscal para os negócios é possível e está de acordo com o acordo da troika mas que deveria ir a par com um corte fiscal sobre o trabalho, ao passo que o IVA pode aumentar.

Desordem tempestuosa na Irlanda após apelo de Morgan Kelly à reestruturação da dívida

Um comentário do economista irlandês Morgan Kelly no Irish Times a apelar a que a Irlanda se afaste do acordo de salvamento provocou uma enorme tempestade na Irlanda e alguma reacção irada do banco central e do governo. Kelly argumentou que o governo irlandês deveria afastar-se da dívida bancária, deixando-a para o BCE, de modo a que país ficasse com uma dívida “sobrevivivel” de €110 mil milhões. O governador do banco central, Patrick Hohohan, sentiu-se obrigado a defender-se, depois de Kelly acusá-lo de ter feito o “mais custoso erro alguma vez já feito por uma pessoa da Irlanda” ao calcular mal a escala das perdas bancárias. Hoohan defendeu o seu papel na corrida para o acordo de salvamento original e a sua decisão de manter a garantia bancária. O ministro das Finanças também respondeu emitindo uma rígida advertência ao artigo de Kelly, dizendo que benefícios à infância e os salários de 300 mil trabalhadores do sector público seriam reduzidos em 33% se o governo abandonasse o acordo de salvamento com a UE-FMI.

E se a França recorrese a um programa de resgate da UE e do FMI?

Em Les Echos Nicolas Barre também é céptico quando ao resgate grego, mas por razões diferentes. Originalmente os pacotes de resgate tinham duas razões bem fundamentadas. Eles precisavam mostrar a populações locais nos países periféricos quão grave era a situação e houve tantos pacotes de resgate para aqueles países quanto houve resgates para os bancos no resto da eurozona. Hoje aquelas duas razões já não são válidas segundo Barre. De modo que reestruturar a dívida grega seria a solução adequada. O colunista francês argumenta que políticos em Paris deveriam reflectir sobre os seus colegas em Atenas, Dublim e Lisboa, onde os governos já não estão no comando e têm de receber ordens da UE e do FMI. Barre aponta o sempre crescente rácio da dívida em relação ao PIB em França e diz que o destino de países periféricos deveria ser motivo de reflexão para qualquer candidato às eleições presidenciais francesas na Primavera de 2012.

Grécia pondera sair da zona euro

A Grécia está a ameaçar sair da zona euro, noticia hoje a edição electrónica da revista Der Spiegel, que acrescenta que esta noite haverá uma reunião de emergência dos ministros das Finanças da zona euro no Luxemburgo.

Com protestos diários na rua e problemas económicos de “larga escala,” escreve a revista alemã que o primeiro-ministro George Papandreou “acredita que não existe outra opção” que não seja a de sair da moeda única.

Fontes do governo alemão adiantam que o alarme já soou nas instâncias europeias e que a Comissão marcou uma reunião de crise para esta noite, no Luxemburgo. Uma reunião “altamente confidencial,” escreve o Der Spiegel, só com os ministros das Finanças da zona euro e quadros superiores.

Nós pagamos a fortuna da família Espirito Santo!

Já se compreende como o Banco do “Estado Socrático” ficou assim, mais para baixo por que para cima, uma espécie de rombo ao apoiar as obras idiotas dos socretinos.

Quem acaba por pagar esta recapitalização doa família espirito Santo, somos nós atrav´s dos impostos que nos irão cobrar a mais!

Nós ficamos mais pobres, eles mais ricos!!!!!!!

Onde está a Justiça?

O BES deverá ser o banco com mais dificuldades para cumprir o rácio de capital acordado entre o Governo e a ‘troika’, podendo necessitar entre 400 e mil milhões de euros, disseram os analistas contactados pela agência Lusa.

De acordo com o memorando de entendimento, será exigido aos bancos um rácio ‘core tier I’ de 9 por cento no final de 2011 e de 10 por cento até final de 2012. “O caso mais difícil é o BES”, disse à Lusa João Pereira Leite, director de investimentos do Banco Carregosa, numa posição partilhada por André Rodrigues, do Caixa Banco de Investimento. Pelas suas contas, o analista do Caixa BI estima que, a partir de um rácio ‘core Tier 1’ de 8,2 por cento, o BES precisa de 182,4 milhões de euros para atingir um rácio de 9 por cento e 433,5 milhões para os 10 por cento. Os valores estimados por André Rodrigues de ‘gap’ entre o capital dos bancos e aquilo de que necessitam já têm em conta as estimativas dos lucros (no BES de 387,9 e 822,5 milhões de euros em 2011 e 2012), pressupondo que estes não distribuem dividendos.

Já para João Pereira Leite, o BES necessita de 500 milhões de euros este ano para atingir os 9 por cento de rácio e 1050 milhões até 2012. Tendo em conta que o ‘core tier 1’ estabelece um nível mínimo de capital das instituições face aos seus activos ponderados de risco, os bancos podem aumentar o rácio através de aumento de capital ou diminuição os activos ponderados de risco. Ambos os especialistas consideram que o BES “facilmente” atingirá os 9 por cento pela alienação de activos ou venda de carteiras de créditos. André Rodrigues recorda que até Março o banco já vendeu 1,3 mil milhões de euros e que “por cada mil milhões de euros que o banco reduza os activos ponderados de risco, o rácio de capital aumenta 14 pontos base”.

No entanto, em 2012, o BES poderá ter de se capitalizar, ainda que deva estar afastado o recurso aos 12 mil milhões de euros que deverá ser destinado à banca dos 78 mil milhões acordado com a ‘troika’. “Todos os grandes bancos excluíram essa possibilidade, com única excepção da Caixa Geral de Depósitos (CGD) porque o accionista é o Estado”, afirmou o analista do Caixa BI. Já o BCP, para atingir as novas metas de ‘core Tier 1’, necessita, segundo Pereira Leite, de 550 milhões até 2012, tendo em conta que o aumento de capital em curso é “bem sucedido” e este fica com um rácio de 9,05 por cento. Já para André Rodrigues, que estima que o rácio será de 8,4 por cento no final do aumento de capital, o banco liderado por Santos Ferreira precisa de 46,8 milhões este ano e 224,7 até final 2012, tendo em conta lucros gerados nos dois anos de 1014,4 milhões de euros.

No caso do BPI, Pereira Coutinho aponta para necessidades em 250 milhões de euros até 2012, enquanto Rodrigues considera que, com lucros de 514,1 milhões, o banco liderado por Fernando Ulrich não tem necessidades. O BPI tem actualmente um rácio de 9 por cento. A CGD, com um rácio de 8,8 por cento, precisa de 100 a 150 milhões para atingir o rácio de 9 por cento e 900 milhões para os 10 por cento, segundo o responsável do Banco Carregosa. Quanto ao banco Santander Totta, o rácio atual já é de 10,7 por cento. “De grosso modo, as necessidades dos bancos são inferiores a três mil milhões, pelo que os 12 mil milhões são mais do que suficientes”, considerou João Pereira Coutinho.

Apoios sociais pagam IRS!!!

No acordo entre o Governo e a troika está também contemplado que todos os apoios sociais vão ter de ser declarados para efeitos de IRS e sujeitos a imposto, como são os casos do subsídio de desemprego, abono de família, de maternidade e paternidade.

O Ministério do Trabalho, contudo, esclareceu que estas prestações sociais não vão ter de pagar IRS – apenas terão de ser obrigatoriamente declaradas anualmente. Mas no memorando da ‘troika’ está escrito que serão “aplicadas taxas de IRS a todo o tipo de transferências sociais”.

Markus Kerber “Portugal tem que abandonar o euro”

Markus C. Kerber, Fundador do Europolis diz que a ideia de uma taxa de juro igual para todos no euro é um disparate.

Para o fundador do Europolis, o grupo de pressão alemão que colocou uma providência cautelar no Tribunal Constitucional com o objectivo de impedir que Portugal receba ajuda internacional, a ideia de uma taxa de juro igual para todos no euro é um disparate.

Porque não deve a Alemanha prestar assistência financeira a Portugal?
Em Maio e Junho do ano passado requeremos junto do Tribunal Constitucional a constatação que as ajudas à Grécia e o fundo europeu de resgate são anti-constitucionais. Com Portugal temos o terceiro caso, e, se isto continuar, deixa de fazer sentido processar, porque uma vez o dinheiro entregue, será tarde demais para uma intervenção do Tribunal. Pelo que interpusemos a providência cautelar. Do ponto de vista económico, somos contra o ‘bailout’ de uma forma geral, porque viola a soberania fiscal dos países dadores. Também não ajuda Portugal a resolver os seus problemas fundamentais. O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai transformar Portugal num protectorado. Mas a política económica portuguesa tem que ser feita pelos portugueses. Uma reacção liberal à crise só é possível se os políticos portugueses, que foram eleitos, puderem agir de forma soberana.

Portugal deve abandonar o euro?
Portugal tem que aumentar a competitividade e reforçar o crescimento. O que não será possível enquanto estiver entalado no espartilho do euro. A noção de uma taxa de juros directora para 17 sistemas económicos e financeiros diferentes é um profundo disparate. Portugal está a sofrer as consequências de uma falta de consolidação atempada das suas finanças e só poderá recuperar se abandonar temporariamente a união monetária. A questão não é se, mas quando. Com o curso actual do euro aliado a um programa de austeridade não há saída possível, pois a austeridade vai conduzir à recessão.

Bloco quer uma auditoria às contas da dívida pública

O Bloco de Esquerda não quer ficar de fora das negociações em torno da intervenção externa que começam esta terça-feira com a troika Comissão Europeia/Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional e o seu líder defendeu esta segunda-feira que esse trabalho “tem de começar por uma auditoria às contas da dívida externa”. “É preciso saber o que estamos a pagar, porquê e quando”, afirmou Francisco Louçã, em entrevista à SIC.

“O Bloco assumirá as suas responsabilidades e apresentará medidas concretas de como fazer a correcção do défice para este ano e como começar a recuperação da economia”, garantiu Louçã. E apontou desde logo três medidas: o registo obrigatório de todas as “transferências [financeiras] que são claramente evasões fiscais, um imposto sobre a banca e a renegociação das parcerias público-privadas (PPP).

Antes, porém, não deixou de criticar que o Governo tenha pedido intervenção externa: “Tinha que o ter evitado”, afirmou. E se não tivesse sido antes, pela via estrutural, então que fosse por uma solução de emergência: “O problema de liquidez dos últimos dias podia ter sido resolvido se a Caixa Geral de Depósitos tivesse pedido um empréstimo de urgência ao BCE, como antes fez a banca privada”.

Mas agora, com o mal feito, Louçã propõe atacar as PPP, até porque elas representam hoje “um pacote do mesmo tamanho que o do FMI, quase 60 mil milhões de euros, mas para os próximos 40 anos e com juros maiores”. E cobrar impostos à banca, cujas dificuldades desvaloriza: “Se está descapitalizada é porque os seus accionistas distribuíram dividendos e não recapitalizaram a sua própria empresa, como deviam ter feito”.

Sobre a “cimeira” da semana passada com o PCP, Louçã frisou que “o que se quer saber é se há um caminho para um futuro Governo de esquerda”. Com ou sem PS? “O desafio está colocado a toda a gente”, acabou por responder. Para o fim ficou a revelação de um pró-europeísmo do BE, quando Louçã se manifestou contra a saída do euro – “seria uma aventura lamentável” – e defendeu a integração europeia. “A Europa falhou, mas não pode continuar a falhar”, defendeu.

Ministros europeus ameaçam Portugal

Exigem programa de ajustamento “mais duro” e “mais abrangente” que o PEC 4, um “programa completo” de reformas. E os juros da dívida soberana portuguesa continuam em alta.
 

Passando por cima do facto de o Parlamento português ter rejeitado o PEC 4, o ministro finlandês disse que o que estava na mesa “já não chega, agora é preciso ir mais longe”.

O ministro de finanças da Finlândia, Jyrki Katainen, disse esta sexta-feira à entrada do Eurogrupo que o programa de ajustamento português terá de ser “mais duro” e “mais abrangente” que aquele que foi rejeitado pelo Parlamento português – o PEC 4.

“A Finlândia não gosta de uma situação em que um país não cuida das suas finanças públicas”, afirmou o ministro, que defendeu um “pacote de medidas muito estrito” para Portugal. Este dirigente do conservador-liberal Partido da Coligação Nacional permitiu-se ditar condições a Portugal. Passando por cima do facto de o Parlamento português ter rejeitado o PEC 4, o ministro finlandês disse que o que estava na mesa “já não chega, agora é preciso ir mais longe”.

Por seu lado, Olli Rehn, o comissário europeu da economia, avisou que o empréstimo será concedido mediante “condicionalidade estrita” e um “programa completo” de reformas

No coro entrou o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble, que frisou que o mecanismo de socorro só é accionado com um “programa de ajustamento” de reformas no país.

Juros continuam a subir

O pedido de ajuda do governo português não alterou a especulação conta a dívida soberana do país.

Esta sexta, às 08h30, os juros exigidos para deterem títulos de dívida soberana portuguesa a cinco anos negociavam, em média, nos 9,904%, acima dos 9,837% da sessão anterior.

No prazo a 10 anos, a taxa negociava, em média, nos 8,635%, um valor superior aos 8,599% da sessão anterior.

Eurodeputados recusam viajar em económica

Proposta de Miguel Portas só teve os votos a favor dos eurodeputados do Bloco, da CDU e de quatro socialistas.

Uma maioria do Parlamento Europeu formada por conservadores e socialistas, o Bloco Central, aprovou o “relatório Fernandes” (deputado do PSD) através do qual os eurodeputados aumentam os seus salários, subsídios e despesas e continuam a viajar em classe executiva.
Artigo | 8 Abril, 2011 – 16:58

Os deputados do Parlamento Europeu aprovaram por esmagadora maioria os seus próprios aumentos de salários, de despesas, de subsídios, a acumulação de subsídios e também a decisão de voar em classe executiva em vez de económica. As estimativas de orçamento do Parlamento Europeu para 2012 atingem os 1725 mil milhões de dólares, o que representa um aumento de 2,3 por cento em relação ao anterior. Todas as propostas do eurodeputado Miguel Portas para moralização do orçamento tendo em conta a crise económica foram reprovadas por maiorias assentes em deputados do Bloco Central – Partido Popular Europeu e socialistas – os partidos responsáveis pelas medidas de austeridade impostas aos cidadãos através da Europa. José Manuel Fernandes, o eurodeputado do PSD responsável pelo relatório aprovado, explicou que se trata de um “orçamento de austeridade” e de “autocontenção” no “contexto da crise económica”.

 

“Isto não é sério, é indecente e muito triste”, dissera Miguel Portas na terça-feira à tarde durante o debate que antecedeu a votação, chamando a atenção dos eurodeputados para o facto de estarem em causa não números mas sim questões “de ética e política”. Os defensores do orçamento explicam a “contenção” pelo facto de a subida de 2,3 por cento ser inferior aos 2,8 por cento em que as estatísticas fixaram a inflação no espaço europeu a 27.

A voz do eurodeputado do GUE/NGL eleito pelo Bloco de Esquerda não foi ouvida. E as suas propostas no mesmo sentido também não foram aprovadas, ignoradas por vastas maiorias assentes igualmente no PPE, nos socialistas – com algumas excepções, incluindo portuguesas – e  nos liberais. Deste modo, os eurodeputados confirmaram as suas intenções de aumentarem os próprios salários, as despesas, os subsídios, os gastos em viagens através da opção pela classe executiva e também a acumulação de subsídios em dias de viagem. Miguel Portas apresentara propostas de congelamento de salários, de subsídios e de patamares de despesas, além de defender contenção nas viagens aéreas.

Numa última tentativa antes da votação realizada quarta-feira de manhã, Miguel Portas enviou uma mensagem por mail a todos os eurodeputados chamando mais uma vez a atenção para “a sensibilidade da matéria uma vez que está em causa a decisão em benefício próprio”. José Manuel Fernandes respondeu que “o Parlamento Europeu não é legalmente competente para decidir sobre a adaptação anual dos salários dos eurodeputados ou de qualquer outro funcionário das instituições europeias”. O eurodeputado do Bloco de Esquerda comentou este parecer afirmando que “a questão é de vontade política, não é processual”.

A situação mereceu um comentário do conservador Lajos Brokos, da Comissão de Orçamento, afirmando que “à luz da situação difícil que se vive em Portugal é estranho ver um português supostamente conservador lutar por mais dinheiro e um português esquerdista lutar por prudência fiscal”.

Feita a votação, o “relatório Fernandes” foi aprovado por 479 votos contra 176 e 23 abstenções. A maioria assentou nos grupos do PPE, liberais e socialistas – nesta bancada apenas se registaram 10 votos contra, nenhum deles português. As rejeições assentaram nos grupos da Esquerda Unitária GUE/NGL, Verdes e conservadores reformistas (ERC)

As emendas apresentadas por Miguel Portas foram igualmente rejeitadas, embora em alguns casos tenham registados apoios significativos – ainda que insuficientes. Ao menos “foi quebrado o unanimismo”, comentou o eurodeputado português.

A emenda 3, que defendia a alteração dos critérios de viagem de modo a que as deslocações aéreas de eurodeputados inferiores a quatro horas fossem feitas em classe económica, foi rejeitada por 402 votos e recebeu o apoio de 216 deputados. O grupo liberal partiu-se ao meio neste caso, o PPE foi quase unânime e os socialistas  não andaram longe disso – 127 contra 19, com portugueses neste grupo.

A alteração 13, que defendia a supressão da acumulação de subsídios em dias de viagem foi rejeitada por 405 contra 151, com 94-29 e 50 abstenções nos socialistas.

As votações das propostas de alteração 14 e 15 foram as mais equilibradas. No primeiro caso, em que Miguel Portas propunha o congelamento da rubrica de despesas gerais, registou-se o apoio de 226 deputados contra 393. O PPE e os socialistas (96-47) voltaram a ser os maiores obstáculos à aprovação.

A emenda 15 propunha o congelamento dos subsídios e abonos dos deputados. Foi apoiada por 213 e rejeitada por 391, com o PPE em peso e 92 votos socialistas.

O Bloco Central foi, como se percebe, o grande obreiro deste orçamento do Parlamento Europeu em que, como salientou Miguel Portas, o que estava à vista dos cidadãos e contribuintes é “se temos usado ou temos abusado deste nosso poder absoluto” de “decidir sobre o nosso próprio salário”.

Deputados portugueses

Entre os eurodeputados portugueses, a proposta de Miguel Portas para acabar com as viagens em primeira classe para deslocações aéreas de menos de quatro horas teve a oposição de todos os eurodeputados do PSD presentes à votação: José Manuel Fernandes, Paulo Rangel, Regina Bastos, Carlos Coelho, Mário David, Maria do Céu Patrão Neves e Nuno Teixeira. Também Capoulas Santos e Correia de Campos, do PS, votaram contra.

Os eurodeputados portugueses que votaram a favor foram os três eleitos pelo Bloco de Esquerda – Miguel Portas, Marisa Matias e Rui Tavares –, os dois da CDU – Ilda Figueiredo e João Ferreira – e quatro socialistas – Luís Paulo Alves, Elisa Ferreira, Ana Gomes e Vital Moreira.

A social-democrata Maria da Graça Carvalho e os dois eurodeputados eleitos pelo CDS-PP, Nuno Melo e Diogo Feyo, faltaram à votação, enquanto a socialista Edite Estrela foi a única portuguesa a abster-se.

Bruxelas questiona contas públicas de 2010

O Eurostat está em conversações com o INE para corrigir contas de 2010. Transportadoras e BPN justificam dúvidas sobre o défice.

O défice orçamental de 2010 está em risco de ser corrigido, ultrapassando claramente o valor inferior a 7% que tem sido adiantado pelo Governo, e furando a meta prometida ao país, à Comissão Europeia e aos mercados de dívida. Segundo apurou o Diário Económico, os gastos com as empresas públicas de transporte e o buraco do BPN justificam as dúvidas do Eurostat, que está em conversações com o Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o assunto.

Afinal, o défice do ano passado – o primeiro do longo caminho de consolidação orçamental a que a economia portuguesa está obrigada – poderá superar os 8%, mesmo depois de incorporado o Fundo de Pensões da PT. O Governo poderá ser assim obrigado a reconhecer perante as instituições internacionais que não cumpriu o objectivo do primeiro ano do horizonte de consolidação. Esta má notícia junta-se à crise política instalada, que poderá precipitar a confirmação de eleições antecipadas hoje mesmo, com o chumbo da actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), pelos partidos da oposição.

A dúvida sobre as contas públicas portuguesas é do Eurostat e vai além da questão da contabilização do impacto financeiro da nacionalização do BPN – que está avaliado neste momento em cerca de dois mil milhões de euros. Em causa estão também os gastos com as empresas públicas de transportes que não têm contratos de gestão com o Estado.

Corrupção no Parlamento Europeu

Três deputados europeus aceitaram “vender os seus serviços” por 100 mil euros

Três deputados europeus aceitaram “vender os seus serviços” por quantias de 100 mil euros a jornalistas da publicação britânica “The Sunday Times”. Reporteres do jornal fizeram-se passar por representantes de lobbies e propuseram a vários deputados pagar 100 000 euros por ano em troca de alterações que pudessem adoptar. Três deles aceitaram.

Adrian Severin, antigo vice primeiro-ministro da Roménia enviou um e-mail aos falsos ‘lobbistas’ dizendo que a alteração desejada tinha sido arquivada. De seguida, enviou uma factura de 12 mil euros por “serviços de consultoria”.

Zoram Thaler, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, também apresentou uma proposta de alteração, pedindo mais tarde que o dinheiro fosse pago para a conta de uma empresa com sede em Londres.

Também o antigo ministro austríaco do Interior, Ernst Strasser disse aos jornalistas: “Eu sou um lobbista”, antes de apresentar um projecto de alteração e de obter um compromisso a favor de um lobbie.

O deputado pediu depois que um primeiro pagamento de 25 mil euros fosse realizado para a conta de uma empresa na Áustria.

Em declarações ao jornal britânico, a vice-presidente do Parlamento Europeu Diana Wallis prometeu uma investigação: “Isso deve ser objecto de uma investigação em profundidade”.

Há três semanas que o IV Reich conhecia medidas de austeridade

Sócrates não consegue evitar que o FMI continue a fiscalizar Portugal.

O anúncio das novas medidas de austeridade apanhou o país de surpresa, mas há três semanas que o novo pacote era do conhecimento de Angela Merkel, apurou o SOL. A chanceler alemã acompanhou o PEC 4 e levou Sócrates a comprometer-se com ele na reunião entre ambos em Berlim, há exactamente quinze dias.

E o primeiro-ministro terá saído mesmo dessa reunião com a certeza de que o novo acordo não iria afastar o FMI – uma vez que o acesso aos empréstimos europeus, ainda que pontuais, exigirá a aprovação deste organismo. A «análise e aconselhamento» por parte do FMI farão parte do futuro fundo de resgate europeu, admite-se até em S. Bento.

As medidas mais contestadas – o corte de pensões acima de 1.500 euros, o compromisso de não aumentar a despesa com as restantes pensões (congeladas até 2013), os despedimentos mais baratos ou os cortes na Educação e na Saúde – estão, aliás, em linha com os princípios aceites pelos países do Euro (e pelo FMI), no acordo que saiu da cimeira do passado fim-de-semana.

Negar os factos

A 2 de Março, quando Sócrates foi a Berlim com o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, já tinha na mão as novas medidas de austeridade. Três dias antes, porém, indignou-se com o facto de se dizer que elas estariam na calha, protestando por a imprensa interpretar dessa forma as suas palavras de que faria tudo para cumprir a meta do défice, e as de Teixeira dos Santos, que admitiu «medidas adicionais».

De qualquer modo, o mediatizado encontro com Merkel em Berlim foi saudado como uma vitória. A chanceler declarou que Portugal se «encontra num muito bom caminho». E elogiou o novo pacote de medidas: «Portugal vai dar os passos certos» – apesar de acrescentar que poderia ser necessário «ir mais além».

Sócrates aproveitou também as palavras de Durão Barroso. O presidente da Comissão Europeia, interpelado pelo eurodeputado do BE, Miguel Portas, aconselhou Portugal a não «tirar o pé do acelerador». Um recado que era um eufemismo, tendo em conta o que se preparava.

Segredo até ao limite

Entretanto, o PSD sabia que estava a tomar forma um PEC 4, e Passos Coelho veio antecipar que não aprovaria novas medidas de austeridade.

Sócrates continuou em silêncio até ao limite do possível. Há oito dias, voou para Bruxelas para assinar o acordo com o grupo Euro para um PEC 4. Nessa manhã, Teixeira dos Santos comunicava em conferência de imprensa o pacote – os jornalistas foram convocados às 23h da véspera e Passos Coelho informado, sumariamente, por telefone.

A reacção do PSD, pelo secretário-geral Miguel Relvas, reflectiu a surpresa: «Quanto às medidas em concreto, só tomaremos uma posição depois do Conselho Europeu». A resposta foi um não .

Belém fez saber por fonte oficial que o PR «não foi previamente informado» das medidas do novo PEC. No discurso de tomada de posse, Cavaco dissera, dois dias antes, que «há limites para os sacrifícios» que se podem pedir aos portugueses.

Esta semana, na entrevista à SIC, Sócrates justificou-se com o calendário: o dia da tomada de posse de Cavaco (9 de Março, quarta) e o do debate da moção de censura ao Governo (na quinta) teriam sido inapropriados. Uma posição criticada pelo ex-Presidente Mário Soares, que disse que Sócrates teve «esquecimentos imperdoáveis».

“apocalipse” no Japão

O comissário europeu da Energia, Günther Oettinger, qualificou o acidente nuclear no Japão como um “apocalipse” e adiantou que as autoridades locais terão perdido o controlo da situação na central nuclear de Fukushima I, onde já houve três explosões. O espaço aéreo em redor da central foi encerrado.
“Estamos a falar de apocalipse e creio que a palavra é particularmente bem escolhida”, disse Günther Oettinger esta terça-feira perante uma comissão do Parlamento Europeu em Bruxelas. “Tudo está praticamente fora de controlo”, adiantou, citado pela AFP. “Não excluo o pior nas horas mais próximas”.

Uma terceira explosão no reactor 2 da central nuclear de Fukushima I, e um incêndio no reactor 4 fizeram esta terça-feira subir de tom a crise nuclear no Japão. As autoridades admitem agora que os níveis de radioactividade poderão afectar a saúde humana. E a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) também já reconheceu que poderá haver danos no núcleo do reactor 2.

Yukiya Amano, director-geral da AIEA, disse em conferência de imprensa que há “possivelmente danos” no núcleo do reactor 2. “Deverão ser inferiores a cinco por cento”, adiantou, para depois salientar que a situação é “preocupante” mas será diferente da catástrofe nuclear que ocorreu em Tchernobil, na Ucrânia, em 1986. O responsável da AIEA disse que precisa de informação mais actualizada e detalhada sobre o que está a acontecer no Japão.

A agência da ONU para a energia atómica já tinha emitido um comunicado a referir que as explosões nos reactores 1 e 3 não danificaram os vasos de pressão primários (primeira camada de protecção do núcleo dos reactores). “Estão ambos intactos”. No entanto, a explosão de ontem no reactor 2 “pode ter afectado a integridade do seu vaso de pressão primário”, acrescenta.

A Autoridade de Segurança Nuclear francesa já tinha alertado para a possibilidade de danos neste sistema de contenção que é o mais importante para evitar uma fuga radioactiva. Adiantou ainda que o acidente nuclear em Fukushima I atingiu um nível de gravidade 6, numa escala de um a sete. “O fenómeno assumiu uma dimensão totalmente diferente da de ontem. É claro que chegámos ao nível 6”, disse André-Claude Lacoste, citado pela AFP. Mas a Agência de Segurança Nuclear japonesa não confirma o nível de gravidade 6, fala antes de nível 4.

No perímetro de 30 quilómetros em torno da central as pessoas não podem sair de casa e foi estabelecida uma zona de exclusão aérea, mas apesar disso as autoridades japonesas informaram a ONU de que os níveis de radioactividade junto à central estão a baixar.