O país de Salazar – Henrique Raposo

O país de Salazar é o país que franze o nariz a eleições (“ai, sei lá, aparecem em péssima altura, aparecem, aliás, de forma irresponsável”). O país de Salazar é o país que fica incomodado quando a democracia fura o debate feito na linguagem dos, vá, técnicos de contas e dos ministros das finanças. Para quê democracia, quando bastava um grupo de especialistas? Para quê eleições, quando bastava um grupo de professores de finanças? Para quê democracia, quando se podia formar já o bloco central versão Biggest Loser (CDS, PS, PSD)?

O país é de Salazar é o país que não reage ao desprezo que o primeiro-ministro revela pelo parlamento. Apenas uns gatos pingados na imprensa mostram algum desconforto pela atitude de tiranete de José Sócrates. Os comentadeiros do costume não só não falam do assunto, como dizem que “ele vai ser duro de roer”. Porreiro, pá. Ou seja, o país de Salazar gosta da brutalidade mal-educada de Sócrates. E, já agora, pergunta-se: mas por que razão ele vai ser duro de roer? Ah, porque sim, porque é duro. Mas ele tem argumentos de governação? Não, pá, mas é um osso duro de roer. Portanto, eis o que meio mundo do comentário tem para dizer sobre um homem que desrespeitou a democracia: ah, ele é duro de roer, pá. O meu país no ano da graça de 2011 (o senhor de Santa Comba deve estar contentinho).

Concentrações marcadas para Marquês de Pombal e Largo Camões, Lisboa . Festejos da queda do Governo

SMS e redes sociais convocam festejos da queda do Governo

“Se Sócrates apresentar a demissão hoje, na declaração ao País, todos ao Marquês de Pombal, às 21h00”. É este o conteúdo de uma mensagem que anda a circular por telemóvel, que apela aos portugueses para se reunirem em caso da queda da Governo.

A SMS, que não apresenta remetente, diz apenas que se passe a palavra para que a concentração tenha mais aderentes.

Igual pedido é feito através de páginas na rede social Facebook. ‘Mega-Festa comemorativa da demissão de Sócrates’ conta já com 1 058 adesões. Nesse espaço é indicado que, a partir das 21h30, no Largo Camões, em Lisboa, terão início os festejos, com o Hino Nacional.

O Mentiroso e aldrabão, o animal político que nos conduziu ao abismo.

O cenário macroeconómico em que se baseia o Programa de Estabilidade e Crescimento entregue pelo Governo hoje no Parlamento aponta para uma contracção da economia este ano de 0,9 por cento, uma revisão acentuada face ao crescimento de 0,2 por cento projectado no Orçamento do Estado.

O governo prevê uma recessão de 0,9% em 2011 na versão actualizada do PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento). Esta previsão contraria uma estimativa de crescimento de 0,7% do PIB este ano quando as instituições internacionais apontavam para uma recessão de 1%.

 

O agravamento do quadro macroeconómico foi a principal razão apontada para a necessidade de avançar com medidas adicionais de consolidação orçamental. Em 2012, o PIB deverá crescer apenas 0,3% e só em 2013 está previsto um crescimento superior a 1%.

 

Segundo as novas estimativas do Governo, a inflação deverá acelerar para 2,7% este ano. Já o desemprego vai continuar a crescer este ano até aos 11,2%, o que reflecte uma contracção de 0,6% do emprego total. Só vai recuar a partir do próximo ano com o governo a prever 10,8%.

 

O mesmo documento prevê que o preço do petróleo se situe nos 107,2 dólares por barril este ano, ficando sempre acima dos 100 dólares até 2014. O Orçamento do Estado para 2011 previa uma cotação de 78 dólares por barril para o petróleo.

 

O documento entregue diz que ainda que as empresas públicas vão ter que cortar mais custos operacionais, além dos 15% que foi exigido este ano. Além disso, diz o governo, estas empresas vão ficar limitadas a tectos máximos de despesa “até ao final de Março de 2011”.

 

Já os hospitais EPE  vão ter de reduzir os seus custos operacionais nos próximos dois anos. “Na sequência dos programas lançados em 2011, serão prosseguidos em 2012 e 2013 os esforços de redução dos custos operacionais nos hospitais EPE”, diz o documento.

 

Apesar das condições desfavoráveis dos mercados, que já levaram ao adiamento de operação, o governo reviu em alta as receitas esperadas com privatizações entre 2010 e 2013.
Agora, a estimativa é obter de 6470 milhões de euros, contra seis mil milhões de euros previstos há um ano. Este valor já inclui a única operação realizada até agora, a venda de 7% da Galp.

 

O Governo vai também rever as listas anexas ao Código do IVA (imposto sobre o valor acrescentado), prevendo gerar um “ganho de receitas” de 0,1 por cento do PIB em 2012 e 0,3 por cento em 2013.

 

Tal como já tinha anunciado, o Executivo prepara-se para aumentar as pensões mais baixas em 2012 e cortar a partir de 1500 euros.

BE quer ouvir ministro das Finanças na quarta-feira

O Bloco de Esquerda (BE) vai chamar o ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, quarta-feira ao parlamento, para este justificar as novas medidas anunciadas sexta-feira pelo Governo, disse neste sábado o líder do BE, Francisco Louçã.

 

 

“Na 4.ª feira o Governo será chamado à Assembleia da República, por via do ministro das Finanças, para explicar estas medidas e será confrontado com uma resposta imediata que é a proposta de renegociação das parcerias público-privado para proteger o Orçamento do Estado nos próximos 30 anos, do buraco de 48 mil milhões de euros”, disse Francisco Louçã.

O coordenador do BE acrescentou que a proposta de renegociação daquelas parcerias visa “poupar o dinheiro público e para usar melhor os recursos da economia”.

Francisco Louçã acusou ainda o Governo de ter “escondido” as novas medidas ao País.

“O Governo, escassas 10 horas depois da moção de censura do BE, apresentou uma negociação que tinha durado 15 dias e já estava pronta, foi escondida ao País, na sexta-feira, com as novas medidas de austeridade: congelamento  das pensões, redução da indemnização de despedimento, ataque aos salários e uma nova degradação da economia”, enumerou.

Quanto ao anúncio de Pedro Passos Coelho, feito sexta-feira à noite, de que o PSD não vai apoiar as medidas anunciadas pelo Governo, Francisco Louçã considera que os social-democratas têm responsabilidade nas medidas que já estão a ser aplicadas.

“O PSD, que suportou o Governo na 5.ª feira, opondo-se à moção de censura, diz agora que não quer mais medidas de austeridade. Mas os portugueses já estão a sofrer as medidas de austeridade que o PSD votou e hoje temos sobretudo uma situação de confusão política, de intriga permanente, em que o PSD não se quer opor em relação às políticas que aprovou e o PS nada quer fazer para corrigir as políticas que estão a provocar uma recessão”, salientou

A Censura de Cavaco – Octávio Ribeiro

Se a acção futura de Cavaco Silva for em linha de coerência com o seu discurso de ontem, este Governo terá pouquíssimo tempo de vida.

Foi uma violenta censura sem moção aquilo a que se assistiu ontem na casa da democracia.

Cavaco tomou posse como Presidente da República, mas o texto que leu por cima de José Sócrates é um cru programa de governo. Para este segundo mandato, o Presidente abandonou o plano do dever ser e ditou um pragmático ter de ser fundado em números, citações e percentagens.

Histórico, este é um discurso que compromete Cavaco com a acção: se não houver crescimento económico que sustente os custos sociais da necessária consolidação orçamental, o que fará o Presidente?

Se o Estado – isto é o Governo – não contiver a sua avidez despesista, consumindo assim o pouco dinheiro disponível no crédito para a iniciativa privada “com autonomia do poder político” – esse necessário empreendedorismo apontado às exportações, com produtos que “integrem conteúdo tecnológico”, o que fará o Presidente?

Se “o esforço colectivo”, que enfatizou, não visar resultados também nos sectores económicos tradicionais: na floresta, no mar, no turismo e lazer, na agricultura, o que fará o Presidente?

Depois deste discurso económico musculado, Cavaco terá obrigação de fazer mais do que apelar ao “sobressalto cívico” na vida colectiva.

O “civismo de exigência”, a que exortou, começa por aplicar-se a si, como Presidente da República.

Ora, depois das palavras de ontem, que tanto aturdiram o Parlamento, Cavaco colocou a fasquia da sua “magistratura activa” tão alta quanto está o juro da dívida soberana.

José Sócrates não tem condições para ser primeiro-ministro

A democracia não é um estado de alma. É uma coisa com regras claras. Marques Mendes, José Eduardo Moniz, o “Correio da Manhã”, Eduardo Cintra Torres, José Manuel Fernandes, Manuela Moura Guedes e Mário Crespo têm razão: José Sócrates perdeu qualquer credibilidade e tem de sair do poder.

Fechadura

Com todo o rigor, com toda a objectividade, José Sócrates não tem condições para ser primeiro-ministro. José Sócrates, como disse logo o Expresso, mentiu ao Parlamento no Verão (caso PT/TVI) . Agora, o trabalho do “Sol” dá substância a essa falta de respeito do primeiro-ministro pelo país e pelo parlamento. Aquilo que é ali relatado é grave demais para fingirmos que não existe.

José Sócrates só tinha uma saída: dizer que o “Sol” tinha fabricado mentiras, ou seja, Sócrates tinha de dizer que aqueles factos não eram verdade. Ora, José Sócrates não negou os factos, e, como sempre, atacou os jornalistas. Atacou o mensageiro do mal, em vez de atacar e explicar o mal. Sócrates, de forma ilegítima e perante o silêncio inacreditável das elites de “Lesboa”, está a refugiar-se na lengalenga da vida privada. Isso é uma farsa. Não estamos a falar da vida amorosa e familiar de José Sócrates. Isso é que é vida privada. Estamos a falar de factos que comprovam que o primeiro-ministro tentou, de forma totalmente inaceitável, controlar grupos de comunicação social. Isto é vida pública, meu caro Dr. Sócrates.

A democracia não é brincadeira. Tem regras. Regras objectivas. E José Sócrates rasgou por completo essas regras. Mentiu ao Parlamento (primeira regra quebrada). Tentou, de várias formas, condicionar os media (segunda regra quebrada). Quando foi apanhado em falso, recusou prestar esclarecimentos transparentes sobre o sucedido, não percebendo que um primeiro-ministro não pode ser uma figura opaca (terceira regra quebrada). José Sócrates não tem condições para ser primeiro-ministro. Quando fez 1% daquilo que Sócrates já fez, Santana Lopes foi (e bem) para a rua. Pensem nisso.

Henrique Raposo

BE propõe comissão de inquérito sobre alegada intervenção do Governo na TVI

O Bloco de Esquerda (BE) anunciou hoje que vai propor a constituição de uma comissão de inquérito parlamentar sobre a alegada intervenção do Governo na intenção de compra de parte da TVI pela PT.

Com este inquérito parlamentar o BE quer apurar “se houve ou não houve uma intervenção do Governo em todos os negócios da compra eventual da TVI pela PT”, disse o líder do BE, Francisco Louçã, em conferência de imprensa em Lisboa.

“Faço um apelo forte a todos os partidos parlamentares para que esta comissão possa funcionar num prazo curto, possa ouvir quem tem de ouvir e possa esclarecer os portugueses sobre se, sim ou não, houve uma intervenção do Governo para determinar, condicionar ou influenciar a compra de um canal de televisão por razões de influência sobre a sua linha editorial”, acrescentou.

Louçã manifestou-se “certo de que todos os partidos concordarão” com o inquérito parlamentar e disse esperar que a comissão “possa estar a funcionar no mês de março”.

“Não estou à espera de que haja um único partido que diga que, perante as dúvidas, a confusão e o nevoeiro, se deve manter as dúvidas, a confusão e o nevoeiro”, disse.

“Manter a indefinição, manter a confusão, é uma forma de permitir ou até de estimular o apodrecimento do Estado e o apodrecimento das leis, do rigor e das garantias que o Estado deve dar em questões de liberdade e de comunicação”, argumentou.

Louçã justificou esta proposta do BE com os extratos do despacho do juiz de Aveiro responsável pelo caso Face Oculta divulgados sexta feira pelo semanário Sol. Segundo os extratos transcritos, o magistrado considera haver “indícios muito fortes da existência de um plano“, envolvendo o primeiro-ministro, José Sócrates, para controlar a estação de televisão TVI.

“O primeiro-ministro já foi confrontado no Parlamento sobre se conhecia ou não a compra da TVI. E o primeiro-ministro faltou à verdade ao Parlamento. Disse-o de uma forma bastante económica algum tempo mais tarde, dizendo que não tinha tido conhecimento oficial. Mas, portanto, tinha conhecimento. O que houve de novo na sexta feira foi um documento de um tribunal. Não foi a divulgação de escutas, foi um documento de um magistrado, uma opinião fundamentada de um magistrado e ela nós tomamos em consideração”, disse hoje Francisco Louçã.

Mas para o BE, a questão judicial está encerrada e é “totalmente infundado” que a informação divulgada contenha indícios de um “eventual crime contra o Estado de Direito, que na nossa ordem jurídica quer dizer crime de terrorismo”.

“Os tribunais superiores decidiram que não haveria outras investigações criminais decorrentes dessa matéria. Por nós, o processo judicial está encerrado. Não pedimos que se reabra e achamos que é medíocre quem, perante a sua fragilidade política, acha que os tribunais devem intervir na política com os critérios da política”, disse Louçã.

“O que nós temos é de outra natureza, mais é maior, é mais importante, porque tem que ver com a liberdade e a forma como o Governo, com toda a lisura e equilíbrio, tem de atuar perante todos os órgãos de comunicação social”, acrescentou.

A constituição de uma comissão de inquérito implica o apoio de, pelo menos, um quinto dos 230 deputados, ou seja, 46. O BE tem atualmente 16 deputados, o PCP 13, Os Verdes 2, o CDS-PP 21, o PSD 81 e o PS 97.

O processo Face Oculta investiga alegados casos de corrupção e outros crimes económicos relacionados com empresas do sector empresarial do Estado e empresas privadas.

Escutas revelam que Sócrates e Vara queriam antecipar legislativas para 2011

 face oculta

José Sócrates e Armando Vara planeavam antecipar as eleições legislativas para 2011. A notícia é avançada pela edição de hoje do Correio da Manhã e fala ainda numa conspiração organizada pelo primeiro-ministro e o ex-vice-presidente do BCP para atingir o Presidente da República, através de ataques políticos ou usando interesses económicos do genro de Cavaco Silva.
Segundo os extractos das escutas do processo “Face Oculta”, para Sócrates e Vara era evidente que o PS iria perder a maioria absoluta nas eleições de 27 de Setembro e que teriam que criar condições para regressar à maioria absoluta num cenário de crise política que os favorecesse. O Correio da Manhã fala ainda que os dois amigos planeavam usar o dinheiro das empresas públicas do Estado para financiar a campanha socialista.
Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite são várias vezes insultados e o Jornal Nacional de sexta-feira da TVI era um pesadelo para o primeiro-ministro.
Teófilo Santiago, responsável da PJ de Aveiro , Marques Vidal, do Ministério Público de Aveiro e o juiz de instrução, António Costa Gomes, não tiveram dúvidas em considerar que as conversas que envolviam a intromissão na PT e noutras empresas controladas directa ou indirectamente pelo Estado configuravam o crime de atentado contra o Estado de Direito Democrático.

Como se pode confiar neles?

Por Manuel Carvalho

Nero

Na última década do século XIX o ministro da Fazenda, Oliveira Martins, aumentou os impostos e esperou por uma revolta popular. Nada. Naquela época, “isto”, o país, “já nem sequer tem energia para se revoltar”, notou. Olhando para o que se passou ontem, percebe-se como, apesar da passagem do tempo, pouco mudou desde este episódio citado na História de Portugal de Rui Ramos. O semanário Sol revelou despachos judiciais e transcrições de conversas que envolvem o primeiro-ministro num plano para silenciar a TVI? Muito bem, lá se ouvem frases de circunstância e tudo se mantém no remanso do costume. À custa dessas notícias, há motivos que reforçam as dúvidas e a perplexidade sobre o papel do procurador-geral da República e do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, que mandaram arquivar os despachos e as escutas sem sequer abrirem um inquérito? Talvez, mas as suspeitas de violação de direitos constitucionais já não merecem mais do que a apatia do costume.

O que ontem foi revelado em Portugal não pode, no entanto, ser recebido com mais um encolher de ombros. Os indícios são de tal forma graves que, se confirmados, tornam a democracia portuguesa uma farsa e o estado de direito um devaneio lírico. Cansado de tantas suspeitas, informações, denúncias ou críticas sobre a relação entre José Sócrates e a liberdade de imprensa, o país já fica imune a qualquer nova que o associe ao condicionamento de jornalistas ou a pressões sobre televisões. Mesmo quando, como agora acontece, essa acção é valorizada por magistrados e exposta em telefonemas de personagens do PS que constantemente invocam o seu nome. Ou quando esses telefonemas não aludem a uma exasperação acidental num restaurante, mas a um plano premeditado, que envolve conspiração nos bastidores e imposição a empresas nas quais o Estado tem uma golden share.

Mas se a acção atribuída a José Sócrates nos leva para a imaginação de Hollywood, a reacção do poder judicial transporta-nos para uma ditadura africana. Haverá sempre quem procure situar a acção de Pinto Monteiro e de Noronha Nascimento no domínio das restrições processuais. Mas evite-se a polémica das interpretações jurídicas e tente-se perceber o que levou o presidente do Supremo a transformar os “graves indícios” dos magistrados de Aveiro em dados “irrelevantes”. Ou o que fez Pinto Monteiro desvalorizar as escutas, ao ponto de dizer que, por ele, mostrava tudo para acabar com os mexericos – coisa que nunca fez.

Pode ser que muitas escutas, a maior parte até, se limitem a comentários sobre o estado do tempo. Mas depois de se ler as que ontem foram divulgadas, é difícil não reconhecer razão aos magistrados de Aveiro. O que elas mostram é, no mínimo, uma série de “fortes indícios” sobre a existência de um plano que configura um atentado ao estado de direito. No seu fluxo, percebe-se que os protagonistas que invocavam o nome do primeiro-ministro na operação para calar a TVI sabiam do que falavam. E, principalmente, pode-se estabelecer um nexo de causalidade entre as acções que planeavam e o que veio a acontecer: a PT fez o que eles disseram que Sócrates queria que a PT fizesse, José Eduardo Moniz saiu como eles disseram que deveria sair e, acto final, Manuela Moura Guedes foi calada como eles quiseram que fosse calada.

Se o que se diz do primeiro-ministro reforça apenas uma suspeita antiga, a facilidade com que Pinto Monteiro e Noronha Nascimento remeteram para o arquivo os indícios que lhes chegaram de Aveiro merece maior preocupação. Com esta etapa, a intolerância de Sócrates para com a liberdade de imprensa não se revela – apenas se adensa; já os receios de que o princípio da separação de poderes está em Portugal ameaçado pelo desempenho dos principais magistrados do país ganham uma nova e substantiva força. Por muito que falem e se expliquem com alíneas e jurisprudência, será agora mais difícil fazer parte do país acreditar na sua independência face ao poder político. As suspeitas valem o que valem, mas, no caso, valem o suficiente para minar a credibilidade do estado de direito. A sua demissão seria um bálsamo para este país doente.

Outra vez não

Outra vez não

A compra da TVI e agora o caso de Marcelo Rebelo de Sousa mostram que afinal Manuela Ferreira tinha toda a razão. Quando a líder do PSD o denunciou, estávamos de facto a viver um processo de “asfixia democrática” com este socialismo que José Sócrates reinventa constantemente. Hoje o garrote apertou-se muito mais. Ridicularizámos Ferreira Leite pelos avisos desconfortáveis e inconvenientes. No estado de torpor em que caímos provavelmente reagiríamos com idêntica abulia ao discurso da Cortina de Ferro de Winston Churchill quando o mundo foi alertado para a ameaça do totalitarismo soviético que ninguém queria ver. Hoje, quando se compram estações para silenciar noticiários e se afastam comentadores influentes e incómodos da TV do Estado, chegou a altura de constatar que isto já nem sequer é o princípio do fim da liberdade. É mesmo o fim da liberdade que foi desfigurada e exige que se lute por ela. O regime já não sente necessidade de ter tacto nas suas práticas censórias. Não se preocupa sequer em assegurar uma margem de recuo nos absurdos que pratica com a sua gestão directa de conteúdos mediáticos. Actua com a brutalidade de qualquer Pavlovitch Beria, Joseff Goebbels ou António Ferro. Se este regime não tem o SNI ou o Secretariado Nacional de Propaganda, criou a ERC e continua com a RTP, dominadas por pessoas capazes de ler os mais subtis desejos do poder e a aplicá-los do modo mais servil. Sejam eles deixar que as delongas processuais nas investigações dos comportamentos da TVI e da ONGOING se espraiem pelos oceanos sufocantes do torpor burocrático, seja a lavrar doutrina pioneira sobre a significância semiótica do “gestalt” de jornalistas de televisão que se atrevam a ser críticos do regime, seja a criar todas as condições para a prática de censura no comentário político, como é o caso Marcelo Rebelo de Sousa. Desta vez, foi muito mais grave do que o que lhe aconteceu na TVI com Pais do Amaral. Na altura o Professor Marcelo saiu pelo seu pé quando achou intolerável um reparo sobre os conteúdos dos seus comentários. Agora, com o característico voluntarismo do regime de Sócrates, foi despedido pelo conteúdo desses comentários. Nesta fase já não é exagerado falar-se da “deriva totalitária” que Manuela Ferreira Leite detectou. É um dever denunciá-la e lutar contra ela. O regime de Sócrates, incapaz de lidar com as realidades que criou, vai continuar a tentar manipulá-las com as suas “novilínguas” e esmagando todo o “duplipensar” como Orwell descreve no “1984”. Está já entre nós a asfixia democrática e a deriva totalitária. Na DREN, na RTP, na ERC, na TVI e noutros sítios. Como disse Sir Winston no discurso da Cortina de Ferro: “We surely, ladies and gentlemen, I put it to you, surely, we must not let it happen again”, o que quer apenas dizer: outra vez não. .

In J.Notícias

A Queda da República (Fall of the Rep*blic) 5 a 8

Na comunicação social o que parece é – Mário Crespo

hang_in_there

Não se pode dizer que de Espanha nem boa brisa nem boa Prisa, porque o clima para este monumental acto censório é da exclusiva responsabilidade de José Sócrates.

35 anos depois da ditadura, digam lá o que disserem, não volta a haver o Jornal de Sexta da TVI e os seus responsáveis foram afastados à força.

No fim da legislatura, em plena campanha eleitoral, conseguiram acabar com um bloco noticioso que divulgou peças fundamentais do processo Freeport.

Sem o jornalismo da TVI não se tinha sabido do DVD de Charles Smith, nem do papel de “O Gordo” que é (também) primo de José Sócrates e que a Judiciária fotografou a sair de um balcão do BES com uma mala, depois de uma avultada verba ter sido disponibilizada pelos homens de Londres.

Sem a pressão pública criada pela TVI o DVD não teria sido incluído na investigação da Procuradoria-geral da República porque Cândida Almeida, que coordena o processo, “não quer saber” do seu conteúdo e o Procurador-geral “está farto do Freeport até aos olhos”.

Com tais responsáveis pela Acção Penal, só resta à sociedade confiar na denúncia pública garantida pela liberdade de expressão que está agora comprometida com o silenciamento da fonte que mais se distinguiu na divulgação de pormenores importantes.

É preciso ter a consciência de que, provavelmente, sem a TVI, não haveria conclusões do caso. Não as houve durante os anos em que simulacros de investigação e delongas judiciais de tacticismo jurídico-formal garantiram prolongada impunidade aos suspeitos.

A carta fora do baralho manipulador foi a TVI, que semanalmente imprimiu um ritmo noticioso seguido por quase toda a comunicação social em Portugal. Argumenta-se agora que o estilo do noticiário era incómodo. O que tem que se ter em conta é que os temas que tratou são críticos para o país e não há maneira suave de os relatar.

O regime que José Sócrates capturou com uma poderosa máquina de relações públicas tentou tudo para silenciar a incómoda fonte de perturbação que semanalmente denunciou a estranha agenda de despachos do seu Ministério do Ambiente, as singularidades do seu curriculum académico e as peculiaridades dos seus invulgares negócios imobiliários.

Fragilizado pelas denúncias, Sócrates levou o tema ao Congresso do seu partido desferindo um despropositado ataque público aos órgãos de comunicação que o investigam, causando, pelos termos e tom usados, forte embaraço a muitos dos seus camaradas.

Os impropérios de Sócrates lançados frente a convidados estrangeiros no Congresso internacionalizaram a imagem do desrespeito que o Chefe do Governo português tem pela liberdade de expressão.

O caso, pela sua mão, passou de nacional a Ibérico. Em pleno período eleitoral, a Ibérica Prisa, ignorante do significado que para este país independente tem a liberdade de expressão, decidiu eliminar o foco de desconforto e transtorno estratégico do candidato socialista.

É indiferente se agiu por conta própria ou se foi sensível às muitas mensagens de vociferado desagrado que Sócrates foi enviando. Não interessa nada que de Espanha não venha nem boa brisa nem boa Prisa porque a criação do clima para este monumental acto censório é da exclusiva responsabilidade do próprio Sócrates.

É indiferente se a censura o favorece ou prejudica. O importante é ter em mente que, quem actua assim, não pode estar à frente de um país livre. Para Angola, Chile ou Líbia está bem. Para Portugal não serve.

Onde está a Democracia?

Contrato não será renovado
Professor com blogue humorístico vai mesmo deixar a Universidade do Minho
19.07.2009 – 07h40 Samuel Silva

tristezadepais

O Conselho Científico do Instituto de Educação e Psicologia (IEP) da Universidade do Minho (UM) ratificou a decisão de nãorenovação do contrato que liga Daniel Luís àquela instituição. O docente do Departamento de Sociologia da Educação, que mantém o blogue humorístico Dissidências, viu assim confirmada a primeira decisão tomada, há um mês, pelo conselho de departamento.

Daniel Luís tinha feito um pedido de prolongamento da sua ligação à UM por mais dois anos, de forma a terminar o seu doutoramento. No entanto, a deliberação tomada pelo conselho científico na reunião realizada na última quarta-feira rejeita esse pedido, confirmando o sentido da votação dos doutores do conselho do departamento de Sociologia da Educação e Administração Educacional, à qual o docente está vinculado.

As justificações para a decisão são, de resto, as mesmas que sustentaram a deliberação de Junho. O órgão máximo do IEP considera que Daniel Luís não atingiu os objectivos propostos na elaboração da sua tese de doutoramento, por ter apenas entregue um capítulo da mesma em dois anos de trabalho. O docente rejeita este argumento e alega que vários colegas em situação idêntica viram os seus contratos renovados, entendendo que a decisão é antes uma represália por não ter acatado o pedido de encerramento do blogue humorístico feito pelos superiores em Dezembro de 2007.

Daniel Luís vai apresentar recurso da decisão do Conselho Científico. Caso veja esta pretensão ser-lhe negada, o docente fica desempregado a partir de 7 de Setembro.

O caso fez criar um movimento de solidariedade para com o professor e investigador. Há uma semana que está online uma petição dirigida à Assembleia da República em que são denunciadas alegadas pressões sofridas pelo docente. “Como consequência directa das suas actividades não profissionais, Daniel Luís tem sido sujeito a uma perseguição sistemática por parte da sua entidade patronal, a Universidade do Minho”, acusa o documento. A petiçãoLiberdade de Expressão para Daniel Luís tinha, ao final da tarde de ontem, 280 subscritores.

Illuminati – A verdade The truth about the Illuminati Pt 1 e 2

Publicado por sleestackassassin

Fernando Sobral- O bando dos quatro

O BPN ficará para a história como o banco que apagou a nitidez das nossas certezas sobre a democracia portuguesa. Pouco sobra de um monte de verdades e de mentiras que se vão acumulando à espera da incineração total. O BPN tornou-se o Frankenstein da democracia. O que diz Oliveira e Costa e o que não dizem Dias Loureiro ou Joaquim Coimbra são o Jekyll e o Hyde desta alucinação. O BPN é a tatuagem do País pós-1974 e os seus actores são figuras parecidas com a criança adorável de “O Exorcista”. Entre o bem e o mal deixou de existir uma fronteira neste país. Portugal não é um país normal. Mente-se e desmente-se. E o País, a começar pela justiça, fica parado, como se estivesse a ver uma telenovela. Como se o BPN fosse uma ficção muito bem contada. Não é. As declarações de Oliveira e Costa são apenas a ponta do icebergue, porque este, adivinha-se, é misterioso e sombrio como as profundezas do oceano. Oliveira e Costa não quer ser Calígula: assassinado, ninguém sabia quem lhe poderia suceder. E Cláudio foi escolhido porque a Guarda Pretoriana o encontrou atrás das cortinas. Aqui já não há cortinas. Dias Loureiro já não pode dizer que está atrás delas. Ou se demite de um cargo moral (Conselheiro de Estado) ou Cavaco Silva deve convidá-lo a partir, até porque nada mais pode fazer. Oliveira e Costa puxou da adaga e mostrou parte do que se esconde por detrás da cortina onde esteve o núcleo duro de Cavaco. A fragilidade do Presidente vem daí. Mas o BPN não é um “bando dos quatro”. É a bandalheira da nossa democracia.

Fonte: J. Neg.

Qualidade da democracia em portugal está a piorar

Portugal perdeu seis posições, de 2006 para 2008, no ‘Democracy Index’ feito pelos especialistas da revista ‘The Economist’. Passou de 19.º lugar para 25.º. Entre os 27 países da União Europeia, Portugal encontra–se na segunda metade do pelotão. Na verdade, sem os países do alargamento, poderia ser considerado um dos com pior vivência democrática.

A democracia portuguesa está a perder qualidade. O Democracy Index mundial relativo a 2008 feito pela revista britânica The Economist revela que Portugal perdeu seis posições face ao mesmo relatório de 2006 (o documento tem periodicidade bianual). Agora está em 25.º lugar da tabela mundial (167 países no total). Em 2006 estava em 19.º.

O que fez Portugal baixar seis posições foi o item da “participação política” (que mede a participação popular nos actos eleitorais). A classificação (numa pontuação máxima de 10) era, em 2006, de 6,11, tendo baixado no Democracy Index de 2008 para 5,56.

O que poderá ter feito baixar esta avaliação da participação política foi o referendo à despenalização do aborto, realizado em Fevereiro de 2007. A abstenção – tal como em todos os outros referendos nacionais já realizados – foi superior a 50% (mais precisamente, 56,39%). Em todos os outros critérios (ver caixa em baixo) a avaliação portuguesa manteve-se inalterada.

No panorama dos 27 países da União Europeia, Portugal ocupa, no relatório de 2008, a 16ª posição. Dito de outra forma: está colocado na segunda metade do pelotão europeu, em termos de qualidade da democracia. No relatório de 2006, Portugal ocupava a 12ª posição, ou seja, estava na primeira metade do pelotão europeu. De 2006 para 2008, Portugal foi ultrapassado por países da União Europeia como o Reino Unida, a França, a Grécia e a Bélgica.

Atrás de Portugal, ainda em termos de UE-27, no relatório de 2008, encontram-se países como a Itália, os três Estados bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia), a Hungria e a Polónia, além da Roménia e da Bulgária, nomeadamente. Dito de outra forma: com a excepção da Itália, só as democracias europeias dos chamados países do alargamento são consideradas piores do que Portugal. Numa UE sem os países de Leste que aderiram, Portugal arriscar-se-ia a ser considerado o de pior vivência democrática, ou um dos piores.A equipa do The Economist que preparou este relatório – a chamada Intelligence Unit – concluiu, sem nenhuma referência específica dedicada a Portugal, que se deu globalmente, de 2006 para 2008, uma “recessão democrática”. Em 68 países houve regressão, em 56 evolução positiva e 43 mantiveram os seus scores.

Os especialistas da revista detectaram na Europa de Leste uma tendência para a qualidade da democracia regredir, o que se verificou em 19 dos 28 países desse bloco regional. Apenas num deles, a República Checa, os índices melhoraram. Em oito deles, mantiveram-se iguais. A recessão democrática global é explicada com a crise econó- mica, que fez despertar nalguns países fenómenos xenófobos anti-imigração.

O Democracy Index divide os países em “democracias plenas” (os 30 primeiros do ranking, entre os quais se encontra Portugal), “democracias imperfeitas” (do 31º lugar ao 80º, encontrando-se aqui nove países da UE), “regimes híbridos” (entre o 81.º e o 116.º) e “regimes autoritários” (do 117.º ao 167.º), entre os quais são colocados países como Angola (131.º lugar na tabela).

Entre os dez menos democráticos (ver tabelas em baixo) encontra-se uma ex-colónia portuguesa, a Guiné-Bissau. O mais jovem país do mundo, Timor-Leste, encontra-se em 47.º lugar. É, portanto, uma “democracia imperfeita”.

Fonte : D.N.

Sweet Misery: A Poisoned World – Parte 01

O aspartamo ou aspartame é uma neurotoxina utilizada para substituir o açúcar comum. Ele tem maior poder de adoçar (cerca de 200 vezes mais doce que a sacarose) e é menos denso. O aspartamo geralmente é vendido junto com outros produtos. É o adoçante mais utilizado em bebidas.

O aspartamo é consumido por mais de 200 milhões de pessoas, em todo o mundo e está presente em mais de 6000 produtos.
Este veneno esta sendo consumido inocentemente pelas pessoas, com aprovação da Organização Mundial de Saúde.

Faça uma pesquisa por “Codex Alimentarius” e você ficará surpreso com as proporções que isso vem tomando.

Obs: Não fui eu quem legendou o video, apenas mesclei as legendas a ele. Mesmo que em alguns momentos tenham dificuldade de acompanhar a legenda por conta da cor, vale a pena assistir ao documentário

Publicado por libertas000

Alex Jones: A Mentira de Obama (The Obama Deception) 10

NO INFRINGEMENT OF COPYRIGHT IS INTENDED

obama-brainThe Obama Deception – A Mentira de Obama é o mais novo documentário do produtor Alex Jones onde destrói por completo o mito de que Barack Obama esteja trabalhando no melhor dos interesses do povo americano.

O fenómeno de Obama é uma mentira maquinada cuidadosamente para liderar a NOva Ordem Mundial. Obama foi apresentado como o salvador em uma tentativa de enganar o povo americano com o fim de aceitar a escravidão mundial.

Já não se trata de esquerda ou direita, de comunismo ou sistema de liberdades, do que realmente se trata até agora de forma encoberta é de um Governo Mundial.

Este documentário cobre: Para quem Obama trabalha, as mentiras que disse e sua verdadeira agenda. Se você quer saber dos factos e passar por cima de toda essa ladainha messiânica, este filme é para você.

http://www.prisionplanet.com
http://www.infowars.com

Publicado por deusmihifortis

Cinco capitães da revolução traçam o diagnóstico do país em tempo de crise

Abril foi há 35 anos e eles gostavam que tivesse progredido, ano após ano. Mas por vezes têm dificuldades em encontrá-lo agora, por aí. Claro que há a liberdade e a democracia. E isso é muito. Mas não era exactamente este o país que eles, os que fizeram Abril, esperavam. Em tempo de crise, não temem golpes nem ameaças não democráticas. Mas receiam a implosão social, falam de uma ruptura iminente. De medos, ainda que outros. E lamentam o fim da solidariedade e do voluntarismo.Andrade da Silva faz um aviso prévio. Está “muito desencantado” e vai expor a sua “visão poética amarga” sobre a revolução que ajudou a fazer. Coronel do Exército na reserva, um dos responsáveis pela reforma agrária, licenciado em sociologia e psicologia, não vê meio termo. “A democracia não é compatível com a actual situação. Ou se resolve a crise, ou vem uma ditadura.”

Este deve ser “um momento para reflectir”, porque este “é um problema para amanhã”, “dentro de seis meses ou um ano o céu pode cair-nos em cima da cabeça e não há plano B”, aconselha Miguel Judas. Primeiro-tenente da Marinha à altura da revolução, membro da comissão coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA) e membro do Conselho da Revolução, Miguel Judas considera que se vive “o final de um ciclo, o esgotamento de uma república”, que exige a fundação de uma nova.

“A crise é um acto político, um acto de governação falhado”, avalia Gonçalves Novo, coronel do Exército na reforma, era capitão da coluna das Caldas no ensaio de 16 de Março de 1974, fundador do MFA, actual membro da Associação de Oficiais das Forças Armadas. “Prevejo a existência de convulsões populares. As pessoas têm fome, os crimes de colarinho branco não são julgados”, vaticina.

“É muito natural que aconteçam [as convulsões]. E é bom que se tenha presente que não se resolvem à bastonada nem com repressão, mas à volta dos valores de Abril, por exemplo da solidariedade”, frisa Vasco Lourenço, tenente-coronel na reforma, membro da comissão política do MFA, actual presidente da Associação 25 de Abril.

“A democracia está doente”

“Há pessoas que exercem a liderança sem terem interiorizado um comportamento democrático. Salazar está vivo, somos muito ditadores. As pessoas no poder têm muitos tiques ditatoriais, criam cordões sanitários para as vozes divergentes”, analisa Andrade da Silva.

Manuel Monge é o mais optimista de todos: “Não comungo de análises catastrofistas sobre a actual situação económica/financeira muito difícil de Portugal e do mundo.”

“A democracia está doente”, diagnostica Vasco Lourenço. E pode ser posta em causa se “houver a veleidade de se tomar posições que façam prevalecer a segurança sobre a liberdade”. Recordando o que aconteceu na Grécia recentemente, com as revoltas populares, frisa: “Não estamos imunes, há condições propícias.” Em Portugal, tem havido, acrescenta, uma “incapacidade para implementar medidas no sentido da justiça social e dos valores de Abril”.

“A crise pode fomentar” a adopção de “medidas mais drásticas e mais gravosas”, das quais “os direitos do trabalho sairão combalidos”, acrescenta Andrade da Silva. “Corre-se um risco de implosão social grave e dessa implosão não ser dirigida por democratas”, alerta. “Em democracia não há implosões sociais. Poderia haver aventuras totalitárias, mas não na Europa do século XXI”, contrapõe Manuel Monge, um dos homens fortes de António Spínola na Guiné.

Liberdade sim, mas…

Liberdade é a primeira coisa que lhes vem à cabeça quando comparam o Portugal de hoje com o de 1974. Vasco Lourenço, coronel na reforma, desterrado para os Açores nas vésperas do 25 de Abril, membro da comissão política do MFA, actual presidente da Associação 25 de Abril, destaca que os três D (Democratizar, Descolonizar, Desenvolver) que se pretendia conquistar com o 25 de Abril são “um facto”.

Gonçalves Novo considera que “o esvaziamento político é perigoso”. “Mas, hoje, pelo menos podemos dizê-lo”, salienta, acreditando que enquanto houver um poder civil, em que os militares estão submetidos ao regime político, “os ideais de Abril estão salvaguardados”. “Temos liberdade, democracia e capacidade de decidir” e Abril continua no país, portanto, “embora com determinadas limitações”. “Pode não ser um 25 tão alegre como era, os tempos são mais difíceis, mas a essência mantém-se”, resume.

Todos apontam o dedo à política, independentemente de quem está no governo, independentemente dos partidos. E alargam a responsabilidade às empresas, aos sindicatos, às universidades, à sociedade civil, aos cidadãos. Todos são responsáveis. “Caímos no rotativismo, não há alternativas, só alternância”, descreve Andrade da Silva. E é preciso começar a assumir os erros. “Em Portugal, também há responsáveis pela crise. Nem tudo é importado, nem tudo vem de fora.”

“Os partidos políticos, de forma geral, falharam todos. São agências de emprego, de defesa dos interesses de facções”, diz Vasco Lourenço.

Isso não quer dizer que defenda a extinção dos partidos. “Não se conhece democracia sem partidos e não há sistema menos mau do que a democracia”, realça. “Procurar responsabilizar os partidos por tudo pode ser um caminho perigoso. Assim começam ou acabam alguns regimes”, salienta Manuel Monge.

Os partidos “são indispensáveis”, diz Gonçalves Novo, mas “não têm cumprido os programas”. Há uma “perversidade humana organizada, incorporada nos partidos”, sustenta Andrade da Silva, criticando que a política seja “um estágio para cargos de administração pública”. “É uma contaminação perniciosa e a democracia ganharia se não houvesse essa circulação de cadeiras”, diz. Miguel Judas realça que a liberdade não é um dado adquirido. “Hoje o pensamento não é livre, muito menos a voz. Já não há o medo do fascismo, mas há o medo de perder o tacho”, compara.

“A política tem vindo a piorar, bateu no fundo com Santana Lopes e com a cena da Base das Lajes”, avalia Vasco Lourenço. “Algumas políticas de hoje eram necessárias, mas não houve a preocupação de as conjugar com medidas de preocupação social”, acrescenta.

Mário Soares foi citado (e elogiado pela “clarividência”) por três dos capitães, enquanto Cavaco Silva foi duramente criticado por Andrade da Silva. “Muita coisa começou com ele [como primeiro-ministro] e agora critica”, recorda.

A justiça também já teve melhores dias, consideram. “O maior défice no nosso país é o funcionamento da justiça, no qual, infelizmente, a generalidade dos cidadãos não acredita”, lamenta Manuel Monge. “A justiça só existe para os que têm posses”, critica Andrade da Silva, exemplificando com o caso da tragédia de Entre-os-Rios, em que as famílias terão de pagar as custas da acção interposta contra o Estado.

O país “vive à conta de alguém”

A motivação do 25 de Abril não era a “impunidade dos poderosos”, nem a “desmotivação dos professores”, nem horas de “produtos tóxicos e mentecaptos” na comunicação social virada para “o negócio e o lucro”, nem a “chinezação” do trabalho sem direitos, nem que a corrupção se transformasse no “cancro nacional”, enumera Andrade da Silva.

A acrescentar à “falta de credibilidade”, há algo pior, na opinião de Gonçalves Novo, que assume ter votado no PS e em José Sócrates nas últimas legislativas. “Está-se a denegrir os cargos políticos, ferindo a dignidade do Estado.” Nas próximas eleições, o capitão de Abril não sabe se vai “votar em alguém”, até porque se identifica “sempre mais ou menos” com alguma coisa. Recorda, a propósito, um episódio curioso logo a seguir ao 25 de Abril. Deu-se ao trabalho de ler todos os programas partidários (“Até fiz uma quadro à mão, ainda não havia Excel”) e concluiu, com pena: “Fizemos uma revolução e não conseguimos arranjar um partido para mim.”

Miguel Judas lamenta que a opção que se fez após o 25 de Abril não tenha sido a de assegurar que Portugal viveria “à conta dos recursos próprios”. Hoje, o país “vive à conta de alguém” e deixar “nas mãos de terceiros a capacidade de comer” é “uma vulnerabilidade tremenda”. Prevaleceu “a opção social-democrata”, que apostou na integração europeia e “não tanto no desenvolvimento autónomo e soberano”, que “não era contraditória com a inserção mundial”.

“A social-democracia de tipo sueco era o modelo, porque tinha uma taxa de analfabetismo inexistente, liberdade de expressão, bem-estar”, recorda Gonçalves Novo. “Não estávamos a pedir mundos e fundos”, considera Andrade da Silva.

“Continuamos a não ter uma burguesia nacional que não viva à conta do Estado. Ela não tem condições para liderar o país. Não teve, nem terá”, sustenta Judas, falando em “corporativismo medieval” – cada um toma conta da sua loja e abre trincheiras para a defender, e nenhum governo entra nos seus castelos. “Este é o problema de algumas reformas deste governo. Era preciso mudar, mas se calhar era melhor não entrar de assalto, era preciso trazer as pessoas para fora dos castelos”, contrapõe.

“Tem sido uma festa, entrou muito dinheiro. E é claro que o povo beneficiou alguma coisa” com a adesão ao “sonho europeu”. Hoje temos “um povo anestesiado, conformado”, embora “de alguma forma satisfeito”, reconhece Miguel Judas. Os fundos alimentaram “o parasitismo das elites”, “os negócios, o enriquecimento fácil, as clientelas” e tudo isto foi tolerado porque “chegou algo à população”.

A factura há-de chegar e Miguel Judas acha que pode já não tardar muito. “A ruptura pode ser antecipada drasticamente no quadro da actual crise, que mostra que o sistema capitalista afinal não é seguro. E esta ruptura pode ser muito mais grave do que a que houve no 25 de Abril. Podemos estar em vésperas de algo muito mais complicado e descontrolado, sem um sistema de ideias mínimo (o MFA coseu uma série de perspectivas, tínhamos ideia de um caminho)”, compara Judas.

O que podem os cidadãos?

Miguel Judas fala em “bloqueamento democrático” nos partidos, num sistema político “caduco” e em “cidadãos atomizados”. “Não há renovação, o sistema reproduz-se a si próprio em circuito fechado, desligado das bases e da população”. Aliás, a política em geral está “bloqueada à emergência de ideias novas”, pois foi apropriada por “escassos milhares de cidadãos”, e os “espaços públicos” têm “dificuldade de emergência”. “Onde está a democracia participativa?”, pergunta.

“De resto, a malta assiste”, lamenta, considerando que “as listas de cidadãos não têm condições” para vingar, por falta de dinheiro e de recursos, mas também por falta de aceitação. Resultante das “muitas décadas de paternalismo”, frisa Manuel Monge.

“Não existe uma cidadania organizada” e a mudança não virá de dentro do sistema, diz Miguel Judas. “Movimentos como o de Manuel Alegre não mudam nada, porque estão dentro do sistema.” O que é preciso é uma “regeneração democrática”, que dê “notoriedade” ao povo. Hoje “só as individualidades têm peso, são sempre os mesmos que falam”.

O problema dos movimentos cívicos, corrobora Vasco Lourenço, é que “procuram um líder de imediato, o que estraga logo tudo”, independentemente da capacidade do líder”. Do “à volta das pessoas” temos de passar para o “à volta das causas”.

Andrade da Silva identifica outro problema. “Há muita gente a fazer diagnósticos, mas ninguém apresenta propostas novas, não avançam. Nisto o Presidente da República e o primeiro-ministro têm razão.”

A mudança, diz Judas, ou se faz por dentro do sistema, na qual não acredita, ou se faz por fora. E aí há dois caminhos: um projecto ou a rua. Judas já não quer saber da divisão entre esquerda e direita. “Não dou créditos a ninguém. A esquerda no poder é igual à direita. Há conservadores que pensam o interesse público e que são muito mais de esquerda do que muitos outros. Noutro dia li um texto de Adriano Moreira que cabe aqui.” Judas gostava era que viesse o tempo dos cidadãos interessados em reunir-se “independentemente dos rótulos e dos carimbos”, numa “base patriótica, democrática, moderna”, no espírito de Abril. E propõe um chapéu: a Associação 25 de Abril e os seus congressos da democracia. Isto “mantendo a perspectiva de ligação com o mundo, não há a ideia de uma quinta de trogloditas”.

De Abril temos hoje “a possibilidade de reunir e de falar. Por que não o fazemos?”, questiona Judas. “Com mais ou menos organização, mas pelo menos com ideias”, frisa. Se o caminho não for este, a mudança será feita nos “bairros”, num “movimento anárquico, vândalo, que vai querer resolver os problemas à sua maneira”. “As lutas serão travadas fora das instituições e ficarão à mercê dos líderes populares emergentes”, concorda Andrade da Silva, sublinhando que “o Governo comete um erro grave quando dá pouca atenção ao grito dos manifestantes”, porque “as pessoas podem ser conduzidas para situações de desespero ao aperceberem-se de que o modelo da rua se esgotou”.

Gonçalves Novo lamenta que nenhum militar no activo se possa candidatar a cargos políticos e que esteja em risco a garantia de que os serviços públicos continuarão maioritariamente nas mãos do Estado.

Gonçalves Novo defende uma “democracia directa” – já Eça de Queirós dizia que “os partidos estão demasiado afastados da população”. Vasco Lourenço diz que “a democracia directa não é a solução”, mas reconhece: “Devia haver mais interligação entre eleitos e eleitores e não fomos capazes de a fazer.” Andrade da Silva tem dúvidas sobre se é “a melhor solução”, mas defende “que os cidadãos se organizem conscientemente”. E mais clarificação política. Se há “liberais no PS e no PSD”, estes “deviam formar um partido à parte”. “Assumam e vão a votos. Isso já seria uma grande revolução organizacional”, acredita.

O país precisa de “deputados mais autónomos que possam fiscalizar a acção governativa e que não sejam veículos de transmissão partidária mas tenham compromissos de honra com os eleitores e com as promessas eleitorais”, defende Andrade da Silva.

“Gerir um processo de mudança” é aquilo que Abril tem para dar ao país de hoje, acredita Judas. “O 25 de Abril passou por aqui e está aqui. Mas há o falhanço da política, os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, uma sociedade cada vez mais injusta, a perda de direitos alcançados com anos de luta, a vontade de repressão, sinais políticos evidentes de que se quer atemorizar as pessoas, fazer uma democracia mais musculada”, analisa Vasco Lourenço. E, por isso, “às vezes apetece fazer outro” 25 de Abril, reconhece.

“Foi algo excepcional, provavelmente irrepetível. É preciso que agora o povo o faça”, convida Andrade da Silva. “O que vejo hoje assusta-me. Pessoas tristes, mal-dispostas, parecem pré-programadas com um chip, sem momentos para pensar. Há uma multidão de polidores de esquinas, de homens encostados para aí, nas tabernas, a beber, a jogar à sueca. A 25 de Abril de 1974, era um país de uma alegria transbordante. Hoje é um país pobre, não do ponto de vista económico, mas sobretudo cultural, moral, republicano e civilizacional”, recorda, saudoso, Andrade da Silva. “O D de desenvolvimento também era de desenvolvimento humano”.

“Começámos a fazer uma viagem, mas o ponto de chegada nem se vê com telescópio. O que está perto são os monstros marinhos, a corrupção, a mentira, a violência simbólica e prática dos governos sobre os cidadãos, capazes de engolir a caravela da liberdade”, descreve Andrade da Silva. Claro que são “perturbações conjunturais”, reconhece: “O 25 de Abril não está derrotado nem ninguém o derrotará. Envelhecemos mas não nos rendemos.”

Publico

Não poderia estar mais de acordo.

A Oligarquia expulsa após o 25 de Abril recuperou todas as suas armas, a sua influ^rncia ao nível do poder político e económico arrantando o nosso País para uma grave crise, ou crises, visto que estamos a contas com uma crise nacional e com uma outra Internacional.

O capital está unido com a oligarquia política que nos tem governados nestes últimos com o objectivos de nos retirar  o fundamental da democracia.

O país vai definhando e uns poucos engordando tal como no tempo de Marcelo caetano.

Tudo na mesma…

O País está mais pobre, mais atrasado e uma faixa de políticos corruptos ocupam os lugares chaves de decisão ,

É necessário um outro 25 de Abril. É urgente. É necessário. Urge mudar, e não voltar a cair no erro.

A revolução é uregente e necessária.

Por Portugal.

Um único jornalista ?…………………..

22 de Abril de 2009 por Carlos Vidal

Faço, se me permitem, uma outra confissão.
https://i0.wp.com/1.bp.blogspot.com/_O8NEhbiXiI8/SZdCnrzdSII/AAAAAAAAC40/NdGSlxAk7yg/JoaoMarcelino1.jpgEnfim, esforcei-me, acho humildemente que me superei, ultrapassei dificuldades bebendo um chá de tília e relendo o ensaio Das Unheimliche de Freud (tenho todo o direito de não conseguir ser espectador demorado de uma prestação pública do Engenheiro José Sócrates), mas valeu a pena: fiquei a conhecer uma excepção ética, segundo o Engenheiro J. Sócrates (dito quase no final da entrevista), uma excepção ética do jornalismo em Portugal. Acho que foi isto que foi dito, não foi? Ouvi mal?
E quem é esse jornalista? João Marcelino, director do Diário de Notícias. Sei pouco do jornalismo em Portugal. Sei um pouco mais de temas culturais (intrinsecamente desinteressantes), mas quem me poder esclarecer que esclareça, sff: quem é João Marcelino?
Apenas isto retirei da entrevista ao Engenheiro Sócrates. Sou pouco dotado para a análise.

SHARETHIS.addEntry({ title: “Um único jornalista ?…………………..”, url: “http://5dias.net/2009/04/22/um-unico-jornalista/” });

Publicado em cinco dias