O poder é uma droga mais natural que a cannabis

O poder é uma droga mais natural que a cannabis Percebe-se o problema Nuno Morais Sarmento, ex-ministro da Presidência do PSD: foi viciado em drogas duras e chegou a admitir numa entrevista ao Expresso que só ficou no Governo de Pedro Santana Lopes, em 2004, por estar viciado no poder. Como tem uma tendência natural para a adição, era óbvio que se viciasse no poder como numa droga. Também se percebe José Sócrates: embora não seja um adito crónico (a adição é a doença dos que se viciam em tudo o que lhes dá prazer), foi apanhado a fumar naquele célebre voo para Caracas. Mas quanto ao poder, transpira vício por todos os poros. O poder não é só afrodisíaco. É viciante. E a maioria dos políticos são “junkies” do seu próprio ofício. “Em algumas personalidades, a conquista de poder pode ser como apanhar uma ‘pedra’, semelhante a uma droga”, escreveu Dan Bobinski, um especialista norte-americano em liderança, num artigo em 2006. “Mas eventualmente a ‘pedra’ passa e a pessoa precisa de uma nova infusão de poder – ou uma posição mais elevada de poder – para voltar a sentir-se estimulado. Nenhuma pessoa é tão grande que não possa cair”. O poder como vício dos vícios e substância mais natural do que a cannabis, tem sido abordado pelos autores mais respeitáveis ao longo dos tempos: “O poder é doce: é uma droga cujo desejo aumenta com o hábito”, escreveu o filósofo Bertrand Russel a meio do século XX. Edmund Burke já tinha escrito há 200 anos: “Aqueles que foram intoxicados pelo poder… nunca o poderão abandonar de livre vontade”. Mas Cavaco Silva é um asceta. Não fuma. Prefere água ao vinho. Bebe pouco café. Havia outro professor de Finanças como ele, também muito asceta – até se dizia que era casto -, que viveu quase 40 anos em São Bento e não tinha vícios. À excepção de um: o do poder. Como Cavaco ou Salazar, todos sucumbem. Ah, deve tão boa essa doce tentação de mandar nos outros, que nem os enxovalhos públicos nem os beijos às peixeiras diminuem o grau de prazer nos cérebros dos nossos políticos. Isto tudo porque esta semana Paulo Portas lançou a Pedro Passos Coelho o repto de reconstituir uma AD pré-eleitoral entre PSD e CDS, para uma alternativa ao poder socialista. A direita volta a sentir o frémito. Portas ajudará a deitar o Governo abaixo assim que perceber que uma moção de censura passa – venha ela de onde vier. Passos Coelho, que dizem ser frio como um bloco de pedra, aguarda. Até quando estes dois homens vão resistir à adrenalina aditiva de conquistar as rédeas do cavalo do poder e mandar num País? Os respectivos partidos estão em ressaca. Até quando o calendário político aguentará a abstinência da direita?