De Santana Castilho, no Público de hoje
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Muitas escolas já preparam a transição do 1º CEB para o 2º CEB
Há escolas que preparam bastante bem a transição do 1º CEB para o 2º CEB. O DN de hoje traz uma história que relata um caso desses. É no agrupamento de escolas Bernardino Machado, em Joane, Famalicão. Graças às AEC, os alunos começaram a estar envolvidos com uma equipa de professores logo desde o 1º ano. Quando transitam para o 5º ano, são acompanhados pela professora titular da turma que entrega as crianças ao director de turma. No primeiro dia de aulas, as crianças conhecem a escola e os novos professores. Desta forma, a transição de ciclo é feita suavemente, sem quaisquer traumas, ao contrário do que o Relatório do CNE afirma. Há muias escolas que já utilizam estes procedimentos. É uma falácia dizer-se que os alunos transitam de um professor, no 1º CEB, para muitos professores, no 2º CEB. O que acontece, na realidade, é que os alunos têm contacts diários com 3 ou 4 professores, logo no 1º CEB. A transição para o 2º CEB, se for bem preparada, como acontece no agrupamento Bernardino Machado, em Joane, Famalicão, não só não é traumática, como é divertida e entusiasmante. O presidente do agrupamento afirmou ao DN de hoje que acha muito bem que se junte o 1º CEB ao 2º CEB, desde que isso não signifique menos docentes a leccionarem, nem turmas maiores.
Alfredo Lima, presidente do agrupamento Bernardino Machado, avisa que a transição brusca não se dá no 2º CEB, mas sim na passagem deste para o 3º CEB. Leia a história toda no DN Online.
Depoimentos como o do presidente do agrupamento Bernardino Machado, de Joane, em Famalicão, são muito importantes. Repõem a verdade e ajudam a combater os mitos criados por mentes que, ou não sabem o que se passa nas escolas básicas, ou têm uma agenda política e ideológica que visa a infantilziação de todo o ensino básico e a transfiguração completa do currículo da escola básica. Se lhe fizerem a vontade, voltarão de imediato as suas atenções para o ensino secundário, procurando estender a esse nível de ensino as mudanças estruturais que conseguiram impor no ensino básico. Essa ideologia pedagógica assenta em várias ideias erradas:
1.A ideia de que existe uma oposição entre ensinar competências e ensinar conteúdos: consideram que a primeira posição é mais válida que a segunda.
2.A ideia de que o único ensino válido é o que “imita a vida”, ou seja, que está profundamente ligado à experiência de vida das crianças e dos jovens.
3.A ideia de que as tarefas de repetição, prática e treino supervisionado não têm valor pedagógico e, portanto, devem ser evitadas na escola.
4.A ideia de que as crianças têm sempre razão e de que a culpa pelos seus fracassos cabe sempre aos professores.
5.A ideia de que se pode ensinar tudo através do jogo e sem o apelo ao esforço.
6.A ideia de que a aprendizagem pode e deve ser sempre divertida e lúdica.
Nota: para aprofundar a questão da ideologia pedagógica que tem ocupado os corredores e gabinetes do ME, leia o meu post no blog ramiromarques.
A pluridocência é a regra nas escolas primárias de Espanha
Desde 1990, que as escolas primárias de Espanha contam com mais do que um professor na sala de aula. Para além do professor titular da turma, os alunos contam com a presença de um professor especializado no ensino do Inglês, outro especializado em ensino da Música, um outro em Educação Física e outro em Religião. Em certos casos, há também o apoio de um professor especializado no ensino das Ciências. Desde 2004, que 150 centros escolares da Comunidade Autónoma de Madrid introduziram o bilinguismo na escola primária com ensino simultaneamente em Castelhano e em Inglês.
Em Portugal, devíamos optar pela mesma solução. Em vez da inclusão do Inglês nas AEC, devíamos introduzi-lo na componente lectiva. O mesmo se terá de fazer com a Música e com a Educação Física. Se alguma modificação há a fazer é a introdução do Inglês, da Música e da Educação Física na componente lectiva do 1º CEB. No 2º CEB, não vale a pena mexer. O dispositivo actual permite a diminuição da dispersão curricular. Basta que as Ciências e a Matemática sejam leccionadas pelo mesmo professor. E o mesmo para o Português e a História.
Entrevista do Sol a Ramiro Marques sobre a fusão de ciclos.
O jornal Sol publicou, ontem, uma matéria muito interessante sobre a proposta de fusão dos 1º CEB e 2º CEB, em consequência das recomendações do Relatório do CNE, A Educação dos 0 aos 12 Anos.
Pergunta: Até que ponto será possível reunir as competências necessárias numa só pessoa para leccionar matérias tão distintas num grau já mais avançado do ensino (o 2.º ciclo)?
Ramiro: É muito difícil. Os professores que leccionam no 2º CEB não têm formação científica e pedagógica para leccionarem todas as áreas curriculares. E nem falo sequer nas Artes e na Educação Física, que exigem uma especialização muito concreta. No mínimo serão necessários 5 professores caso se queira assegurar alguma qualidade nas aprendizagens. Os novos professores, a serem formados, no quadro do decreto lei 43/2007 de 22 de Fevereiro, também não terão as competências necessárias. O chamado perfil 4, que esse diploma cria (professores generalistas para os 6 anos de escolaridade), irá proporcionar uma formação científica e pedagógica muito fraca. Constitui um enorme retrocesso. Os autores da proposta de fusão dão a entender que concordam com o decreto lei 43/2007 de 22 de Fevereiro e com o novo modelo de habilitações para a docência. É um modelo que já está em marcha e que se iniciou este ano lectivo com a abertura do 1º ano da Licenciatura em Educação Básica. Impõe uma formação em mosaico, demasiado generalista, que pretende ensinar um pouco de tudo mas nada em profundidade.
P:A Matemática (que tão fracos resultados costuma obter) não pode vir a sofrer com isso?
R: Claro que sim. São reconehcidas as dificuldades que os professores do 1º CEB mais jovens têm na Matemática. Será muito pior com a Matemática do 2º CEB que, evidenteente, é mais complexa.
P: Esta é uma medida que pode aumentar a precariedade dos professores? Como?
R: Se for implementada, haverá milhares de professores que irão ser dispensados por ficarem com horários zero. Irão para o quadro de mobilidade. Estou a lembrar-me sobretudo dos professores de educação física e de artes. A medida irá criar uma enorme instabilidade nos professores do 2º CEB.
P: Em seu entender faz sentido usar como argumento o facto de a transição do 1.º para o 2.º ciclo ser traumática para os alunos?
R: É um completo disparate. Acontece exactamente o contrário. É com entusiasmo e alegria que os alunos mudam da escola do 1º CEB para a escola do 2º CEB. Pode constituir uma oportunidade de crescimento.
P: Esta medida pode contribuir para infantilizar os alunos do 2.º ciclo?
R: O objectivo parece ser esse. Há uma ideia romântica sobre a infância e a puberdade no Relatório da CNE. Os autores não percebem que as crianças são mais fortes do que parecem e gostam de desafios. É uma medida disparatada e sem sentido. Há uma ideia subliminar nesta proposta de fazer do ensino básico um grande jardim-de-infância. E se lhes fizerem a vontade, hão-de regressar mais tarde a exigir o mesmo para o ensino secundário. Não têm emenda!
Ciclos de ensino… a questão não está no nome ou na duração
Há 10 meses o CNE discordava e agora já concorda?
Ou estou a ler mal?
Com tantos documentos, alguns a carecerem que os leia com mais atenção, humildemente admito que esteja a ler mal o sentido dos excertos que citei em termos do que me parece uma contradição. Se assim é, agradeço que me corrijam.
In “Memórias soltas de Professor”
PÚ – Professor Único!
Aparece como caído do nada a notícia da ‘fusão’ dos 1.º e 2º ciclos (ver Público), do nada, não, mas de um estudo apresentado no Conselho Nacional de Educação, coordenado por Isabel Alarcão.
Lê-se o estudo, que por acaso está muito bem elaborado, e não vemos a expressão ‘fusão’ em lado algum! Este estudo, “A educação das Crianças dos 0 aos 12 anos” enuncia uma série de constrangimentos e aponta várias tentativas de solução, alicerçadas em 2 vectores:
– um currículo integrado e áreas especializadas;
– coordenação e gestão da globalidade do currículo pelo professor responsável pela turma e pela equipa de docentes.
Este ‘professor responsável’ é que, no entender dos autores, será o coordenador de ‘professores coadjuvantes’ e o garante de uma mais correcta transição dos alunos.
O estudo comporta uma lógica de gestão integrada que não prevê, de forma alguma, uma monodocência estanque, bem pelo contrário. No entanto, o Sr. Secretário de Estado Valter Lemos, famoso arauto do P.U. (Professor Único), agarrou de imediato a ideia de um estudo que ainda se encontra em fase de análise para, mui repentinamente afirmar:
As bases já estão criadas, o perfil dos professores já foi alterado de modo a que, se for preciso, estejam preparados para a mudança.
Ora aí está! Aí está tudo quanto precisava para ter um só professor…! Mas é melhor ler o estudo, ler Sr. Secretário de Estado, para aquilatar o que lá é dito e defendido para depois, sim depois e com cabeça, pensar no melhor caminho a seguir, porque muito mais traumatizante que a passagem da pluri para a monodocência será refundar tudo sem ninguém perceber nada, em particular os alunos, que sabem, sabem e sonham com o momento que darão um passo importante do seu crescimento – a entrada no 2º ciclo!
Eles, os alunos, também sabem, sabem e pensam…, e sonham com etapas, com metas que querem ultrapassar como se de conquistas de imperiosa afirmação pessoal se tratasse.
In “Sinistra Ministra”
Somos um país de traumatizados
Somos um país de traumatizados e tudo por culpa de nos obrigarem a transições bruscas. E esta, hem?
A RTPN dedicou o programa Antena Aberta à discussão sobre a fusão do 1º CEB com o 2º CEB, a propósito do Relatório da CNE, A Educação das Crianças dos 0 aos 12 Anos.
O comentador principal foi João Grancho, presidente da Associação Nacional de Professores. Teve uma participação fraca. Ficou-se pelas generalidades. A propósito das recomendações do Relatório da CNE, falou muito e não disse nada. Ora dizia que a fusão podia ser positiva, ora que não. Enfim, eu não consegui entender nada. O Presidente da CONFAP esteve igual a si próprio. Nem comento! O dirigente da FNE falou pouco e não disse nada. O único que disse alguma coisa de jeito foi o colega Côrte Real, de Mafra.
Ficámos a saber, graças ao Relatório da CNE que, nos últimos 30 anos, o sistema de educação andou a traumatizar os alunos, obrigando-os a transitar da escola do 1º CEB para a escola do 2º CEB. Feitas as contas, todos os portugueses são uns traumatizados porque, quer antes quer depois de 1974, as crianças foram “vítimas” dessa transição “brusca”.
Para os autores do Relatório e para a ministra da educação, que apoia as recomendações do Relatório, obrigar as crianças de 6 e 7 anos de idade a deslocarem-se para centros escolares que ficam a 30 km de casa não é traumatizante. Traumatizante é obrigar as crianças de 10 anos a trocarem a escola do 1º CEB pela escola do 2º CEB. É caso para perguntar: os autores do Relatório têm visitado escolas do 2º CEB? Já acompanharam os alunos do 5º ano nos primeiros dias de aulas? Se tivessem acompanhado, testemunhariam, com certeza, a alegria e o entusiasmo no rosto dos alunos.
Deixemo-nos de subterfúgios: o que está em causa é apenas reduzir a despesa com os salários dos professores. Só quem não sabe fazer contas é que pode dizer que a generalização do professor generalista nos 5º e 6º anos não leva à redução do número de professores necessários.
Continuarei, neste blog e no blog ProfAvaliação a analisar o Relatório da CNE, por várias razões:
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A ministra da educação vai servir-se dele para justificar algumas das suas políticas mais gravosas: escola a tempo inteiro, desfiguração da missão da escola, transfiguração da profissão docente e escola a tempo inteiro.
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A concepção de escola e de professor que informa todo o Relatório e sobretudo as suas conclusões e recomendações é muito semelhante à perspectiva que tem sido adoptada pela ministra da educação.
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Há afirmações no Relatório sobre a formação inicial de professores que me levam a concluir que os autores estão de acordo com o decreto lei 43/2007 de 22 de Fevereiro, que cria o novo quadro de habilitações profissionais para a docência, e que, a meu ver, constitui um enorme retrocesso pedagógico com efeitos nefastos que se irão fazer sentir daqui a 3 anos.
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A serem levadas à prática algumas recomendações do Relatório, iremos assistir a um aumento da degradação do currículo da escola pública. Quem já tenha leccionado no 2º CEB (eu leccionei) sabe, perfeitamente, que a grande maioria dos professores não tem preparação para leccionar todas as unidades curriculares dos 5º e 6º anos. Quem conhece os planos de estudo dos novos cursos de formação inicial de professores, perfil 4 (o perfil que aponta para o professor generalista), sabe, perfeitamente, que esses futuros professores não saem com conhecimentos sólidos para leccionarem todas as unidades curriculares.
Opinião:
Mas será que ainda ninguém entendeu qual o objectivo desta fusão? Mas alguém acredita que as crianças ficam traumatizadas, nesta idade, quando mudam de ciclo? Com os meus dois filhos passou-se exactamente o contrário: “Para o ano vou para a escola dos grandes”. Não terá sido mais traumatizante o fecho das escolas do 1.º ciclo e a transferência das crianças para centros escolares distantes de casa, obrigando as crianças a levantarem-se às 7.30h para terem aulas às 9.00h e a regressarem a casa por volta das 18.30h-19.00h? Uma escola de Sol a Sol. Uma escola de Noite a Noite. Não terá sido isto o mais traumatizante e angustiante para crianças de 6, digo SEIS anos de idade? Não é desumano manter crianças desta idade fechadas em escolas durante um dia inteiro com AEC na mesma sala de aula? Isto sim é que traumatiza estes inocentes que ainda não têm voz. Estamos a formar uma geração que irá dar muitos problemas no futuro. Basta ver como é que estas crianças chegam a casa: angustiadas, nervosas, conflituosas… e sempre muito cansadas. Este governo até obrigou as crianças a deixarem de ser crianças. Rouba-lhes a infância. Os pais ainda não pararam para pensar sobre os malefícios desta situação. Conheço colegas cujos filhos cumprem apenas a componente lectiva e o Inglês. O resto faz-se fora da escola. Os seus filhos aprendem, brincam e socializam noutras instituições e sobretudo na família. Com os pais, irmãos e avós.
Este famigerado défice que tudo funde e tudo desumaniza é a justificação para esta maneira cruel de governar. Hoje, mais do que nunca, as pessoas deixaram de ser pessoas e passaram a ser números. E como tal, tudo vale para atingir os fins. Como diz um economista muito conhecido: ” Combater o défice é a coisa mais fácil para qualquer governo. Ninguém inventou nada de nada. O pior é como se reabilitam as pessoas. E isso levará anos e irá custar muito caro a este país”. As pessoas começam a deixar de viver para passar a sobreviver. Exagero? Talvez. Só que os números não mentem: mais pobres, pobreza envergonhada, desemprego e falta de dinheiro.
Manuel Santos
A ministra da Educação admite a possibilidade de fundir o 1.º e o 2.º ciclos do Ensino Básico, tal como foi preconizado pelo estudo da Comissão Nacional de Educação (CNE) que foi ontem publicamente apresentado. As associações de pais, de professores e o pediatra Mário Cordeiro aplaudem a ideia.
Apesar de Maria de Lurdes Rodrigues não se ter comprometido com “timings”, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, apontou para a próxima legislatura a eventual fusão dos 1.º e 2.º ciclos e defendeu um “razoável consenso” para a concretização da medida. Leia o resto no JN Online.
Comentário
Estamos a criar uma país de mariquinhas. Sem ofensa para os gays! Terapeutas, ex-ministros da educação, associações de pais, gurus do eduquês e dirigentes de associações de professores que não dão uma aula vai para quase um século são unânimes no aplauso à fusão dos 1º CEB e 2ºCEB. E tudo para evitar os traumatismos nas crianças. Já agora: não acham que as crianças e os jovems deviam parmanecer ad eternum no jardim-de-infância? Afinal, também ficam traumatizadas quando trocam o jardim-de-infância pela escola do 1º CEB!
“A reestruturação da organização escolar, fundindo o 1.º e o 2.º ciclos e alargando o ensino da monodocência até aos 12 anos, são algumas das medidas propostas pelo Conselho Nacional da Educação (CNE) num estudo em que caracteriza a situação das crianças portuguesas dos zero aos 12 anos – mais pobres dos que os adultos, mais vitimizadas do que em qualquer outro país da Europa, são das que menos brincam com os pais, tendo na televisão a principal fonte de entretenimento.
Para minorar as «transições por vezes traumáticas» entre ciclos, são propostas medidas que introduzam uma lógica de continuidade entre o pré-escolar e o 1.º Ciclo, assim como uma fusão dos primeiros dois ciclos.”
A questão do regime de monodocência no 1º e 2º ciclo, fundindo estes dois, não é de agora. Já há algum tempo tem-se repetidamente adjectivado a passagem do 4º para o 5º ano como traumático e como razão de todos os males da educação em Portugal. Gostaria de, em poucos pontos, refutar, ou pelo menos, pessoalmente discordar destas razões.
Primeiro, a questão do trauma da criança. Penso que deveriam nestas alturas aparecer os psicólogos e explicar como é nesta fase da nossa vida que aprendemos a adaptarmos-nos a situações novas, e que temos mais activa essa capacidade. Tenho muita dificuldade em admitir que é infantilizando as crianças, quando elas começam a entrar numa fase crítica do seu crescimento psicológico como é a adolescência, que iremos prepara-las mais adequadamente para a complexidade da vida. A adaptação é a capacidade chave do ser humano para sobreviver e ultrapassar os obstáculos que existirão durante toda a sua vida.
Segundo, a questão da suposta monodocência no 1º ciclo, em comparação com o “caos” do 2º ciclo. No 1º ciclo, actualmente, existe o professor de 1º ciclo, que lecciona as áreas chave, mas existem ainda outros professores, de áreas como o Inglês, a Educação Física e as Expressões. Dificilmente hoje se poderá dizer que um aluno no 1º ciclo apenas tem um professor. Logo, a transição não será assim tão violenta como a pintam. Já agora, seria interessante reflectir sobre a opinião que vários pais deram sobre este assunto. Quando questionados sobre o suposto “trauma” pela passagem do 1º ciclo para o 2º, todos se mostraram espantados, negando que isso tenha acontecido com os seus filhos. Aliás, vários mostraram-se contra esta proposta, pois consideram a necessidade dos filhos se adaptarem a novas situações, importante.
Terceiro, a perspectiva do 2º ciclo. Infelizmente, notamos que muitos professores do 1º ciclo dão prioridade aos conteúdos da sua área de formação, seja ela Ciências, seja ela, Letras. Ora, se no 1º ciclo, onde temos a base da Educação, onde os conteúdos são os elementares, já se torna complicado um professor ser excelente em todos, o que acontecerá num 2º ciclo, onde os programas são mais vastos, mais complexos e mais abrangentes? Será realmente um professor capaz de ser excelente em Matemática, Ciências da Natureza, Língua Portuguesa, História, Geografia, etc? Se por vezes já se torna difícil um professor ser excelente em duas áreas disciplinares, custa-me a acreditar que seja com monodocência que a excelência na Educação se atingirá…
Resumindo, a adaptação é uma capacidade que deve ser incentivada, e não, desprezada, e a excelência do professor no conhecimento daquilo que ensina e nas suas práticas pedagógicas são essenciais para se educar uma criança.
O Ministério da Educação considera que é prematuro avançar com a fusão dos 1.º e 2.º ciclos do ensino básico, tal como recomenda o estudo pedido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
Peço desculpa se estiver errado ou confundido, mas não foi o ME que há tempos propôs o mesmo? Aliás, não se estão já a formar professores de monodocência para o 1º e 2º ciclos? Esta distanciação do ME, sem ninguém os colocar em cheque deixa-me perplexo e algo revoltado. E já agora, será uma inflexão de posição, ou tentar colocar o ónus desta decisão no CNE? É bom que comecem a abrir os olhos, senão, à boleia de estudos como este, o ME leva a sua avante.
A Associação Nacional de Professores alertou hoje para a necessidade de reestruturar toda a formação dos docentes caso avance a fusão do 1º e 2º ciclos do ensino básico, proposta pelo Conselho Nacional de Educação.
“Parece-nos adequado o que é proposto, mas há que ter em conta o tempo de implementação desta medida e a formação dos professores, que terá de ser toda reformulada”, comentou João Grancho, presidente da Associação Nacional de Professores.
Mas agora até a Associação Nacional de Professores defende esta proposta? No ME devem estar a saltar de alegria. Quando quiserem colocar este sistema a funcionar, poderão dizer que todos os intervenientes estão de acordo. E sobre esta associação acho que não vale a pena dizer muito mais… Eles próprios já dizem “
In “Candidato a Professor”
CNE DEFENDE FUSÃO DE CICLOS
Estudo do CNE defende fusão do 1º e 2º ciclos para evitar «transições bruscas»
Um estudo do Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda a fusão dos 1º e 2º ciclos do ensino básico para acabar com «transições bruscas», com apenas um professor, progressivamente apoiado por outros docentes em pelo menos duas áreas
Segundo o estudo «A Educação das crianças dos 0 aos 12 anos», este ciclo de seis anos «visaria neutralizar as transições bruscas identificadas ao nível da relação dos alunos com o espaço-escola, as áreas e os tempos de organização do trabalho curricular, a afiliação dos professores, o seu papel de aluno e com o desenvolvimento gradual das competências esperadas».
Por outro lado, recomenda-se para este ciclo o regime de monodocência com progressiva co-adjuvação, pelo menos em duas áreas, uma mais voltada para as ciências e outra para as letras.
[…]
«Este modelo permitiria articular a exigência da competência disciplinar face ao crescente desenvolvimento do conhecimento sem relegar para um plano secundário a importância do vínculo pedagógico, da relação de pessoalidade e do conhecimento interpessoal que a actual organização do ensino desestabiliza com a entrada do aluno no 2º ciclo do ensino básico»,
lê-se no documento.
Isto porque, analisando a situação actual, os autores constatam que existe um contraste violento e repentino entre o regime de monodocência do 1º ciclo e o regime de pluridocência do 2º, «contraste que é acentuado e intensificado pelas diferentes lógicas organizativas que estruturam o trabalho escolar».
«O contraste acentua-se ainda pela diferença de cultura profissional entre os professores do 1º ciclo e do 2º ciclo. Enquanto que os primeiros se assumem como professores de crianças cuja missão se centra na promoção de aprendizagens fundamentais por parte dos alunos, os segundos assumem-se primeiramente como professores de uma disciplina escolar», lê-se no estudo.
«Ou seja, para os primeiro o que interessa é que os alunos aprendam, enquanto que para os segundos o que interessa é que a sua disciplina seja aprendida. Para os primeiros o foco são os alunos, enquanto que para os segundos o foco é a disciplina escolar», acrescenta.
Em entrevista à Agência Lusa em Fevereiro, a ministra da Educação […] explicou que as escolas nunca puseram em prática um mecanismo que permitia que um só professor leccionasse um conjunto de disciplinas à mesma turma, como Matemática e Ciências ou Língua Portuguesa e Inglês, por exemplo, apesar de o currículo prever essa possibilidade.
«Na prática, o que acontece é que cada um dos espacinhos é preenchido por um professor e é isso que dá lugar à situação de os alunos do 2º ciclo conhecerem, por exemplo, 16 professores», criticou Maria de Lurdes Rodrigues, defendendo a necessidade de estimular as escolas para que façam uma concentração das áreas disciplinares de forma a que os alunos possam ter uma visão mais integrada do conjunto das disciplinas.
[…]
O estudo reconhece, no entanto, riscos com a fusão dos dois primeiros ciclos do básico: uma possível descoordenação das equipas multidisciplinares e uma eventual influência disciplinar e académica dos actuais professores do 2º ciclo (alunos dos 06 aos 09 anos) sobre os do 1º (10 e 11 anos), entre outros.
O documento recomenda ainda o alargamento dos apoios destinados às crianças dos zero aos 03 anos de idade, a profissionalização das amas, uma melhor oferta de ocupação de tempos livres e uma articulação entre serviços sociais e serviços educativos que «ultrapasse a tradicional associação de serviços de carácter social às populações mais carenciadas e de serviços educativos às mais favorecidas».
[…]
Toda a notícia no Sol.
A notícia pode também ser lida no Público, de onde retirámos este comentário:
Claro o CNE, como aliás já havia referido anteriormente, é composto por iluminados! Nunca ninguém pensou nestas possibilidades…. realmente, neste país e com este governo, todos os idiotas têm voz! Pois, pois… Na realidade, se existisse uma fusão entre os dois ciclos, teríamos uma disparidade entre as idades iniciais dos 1º e dos segundos, concordo muito mais que se aproveite um professore de matemática e ciências, para leccionar a uma turma ambas as disciplinas, ou Português e Inglês do que o que nos é proposto pelo CNE; Realmente o estudo revela um erro que é a maneira como se posicionam os professores de 2º ciclo, que se focam na disciplina e não no aluno… agora, alunos do 1º ano com mais do que um professor, coitados, muitos deles ainda hoje, volta meia volta choram, como seria se tivessem que aguentar a falta de personalização a que estão sujeitos quando abandonam o 1º ciclo. Claro que os alunos de primeiro ciclo são protegidos ao máximo pelos seus professores… Também as suas idades assim obrigam! Já basta os iluminados que temos: – sócrates, M.ª L Rodrigues, Valter Lemos, Margarida (qualquer coisa) DREN, não precisamos de mais… Vão para casa Srs. do CNE, ver telenovelas.
E podemos dizer que as culturas profissionais do 1º CEB e do 2º CEB são diferentes, por vezes antagónicas, originárias de formações com origens e tradições históricas diferenciadas e traduzidas em representações distintas sobre a educação e a profissionalidade docente. O professor do 1º CEB é um professor que pensa na criança e nas suas aprendizagens estruturantes; os professores do 2º CEB pensam fundamentalmente na sua disciplina e no seu ensino. Como afirma Natércio Afonso, “para os primeiros o que interessa é que os alunos aprendam, enquanto que para os segundos o que interessa é que a sua disciplina seja aprendida”. Poderemos dizer que se trata da influência da formação inicial, historicamente separada e com distintos referenciais de forte tradição.
In Relatório do CNE, A Educação das Crianças dos 0 aos 12 Anos, p. 119
Comentário
Esta é forte demais! Então as diferenças culturais entre os professores do 1º CEB e os professores do 2º CEB é que os primeiros estão interessados em que os alunos aprendam e os segundos apenas se interessam que os alunos aprendam a sua disciplina?
Depreende-se destas palavras que a cultura do professor do 1º CEB é melhor do que a cultura do 2º CEB e por aí fora. Será por haver ainda alguns professores do 2º CEB que têm uma formação científica de base universitária complementada por um estágio pedagógico? Mas esses são cada vez mais raros no 2º CEB! Há quase vinte anos que as Escolas Superiores de Educação formam professores para os 1º e 2º CEB! Seguindo esta lógica, o melhor seria transformar todo o ensino num enorme jardim-de-infância. Esta afirmação encerra uma visão de escola e de educação: a defesa de uma escola sem conteúdos e onde a transmissão do legado civilizacional, seja ele cultural, tecnológico, artístico ou científico, se dilua numa polifonia de funções sociais, assistenciais e cívicas. É a defesa do inócuo e vazio conceito de escola das competências ou seja lá o que isso for. Alguém sabe o que é? Encerra, também, um novo conceito de professor: um profissional que presta cuidados sociais e assistenciais. Não admira, por isso, que a ministra da educação veja com apreço a divulgação deste relatório. Veio mesmo a calhar! E o paradigma de escola e de professor que nele está plasmado é igualzinho ao que a ministra da educação tem vindo a implementar nestes últimos três anos.
Experiências com humanos
Investigadores defendem fusão entre o 1º e 2º ciclos do ensino básico
os investigadores que participaram no estudo do Conselho Nacional de Educação defendem uma alteração da organização do sistema educativo, com a fusão entre o 1.º e o 2.º ciclo do ensino básico,
As ciências sociais não são nem podem ser, por motivos éticos, ciências experimentais. Segue-se que não é possível refutar uma teoria através do método experimental. E não sendo possível refutá-la pelo método experimental, também não é possível refutá-la de forma clara e imediata por método nenhum. Os cientistas sociais deviam ser os primeiros a reconhecer as poucas certezas que existem sobre o conhecimento que possuem e a serem conservadores nas suas propostas práticas. Mesmo que eles acreditem que a fusão entre o 1º e 2º ciclos do ensino básico é desejável, porque raio é que propõem uma remodelação do sistema de ensino? Uma remodelação do sistema de ensino afecta toda a gente de forma involuntária. Porque é que não fazem uma proposta mais conservadora, limitada e com menos riscos de conduzir ao desastre? Por exemplo, porque é que não defendem liberdade de ensino que permita aos diversos sectores da sociedade experimentar de forma voluntária (e necessariamente limitada) as diversas propostas que existem sobre o assunto?
In “Blasfémias” por Joáo Miranda