Rui Tavares – Caro eleitor: você está enganado

Entrámos em campanha eleitoral. Eu mesmo estou em campanha eleitoral. Talvez seja a ocasião certa para me dirigir desde já aos eleitores e repreendê-los – se fosse depois das eleições poderia parecer falta de desportivismo.

Dizem os estudos, a imprensa e os comentadores que a grande maioria não vai votar nestas eleições europeias, que consideram ser a feijões. Nesse caso, vocês – a grande maioria de vocês – estão enganados. Três razões:

Três quartos das leis por que nos regemos vêm de Bruxelas e passam pelo Parlamento Europeu. Decisões que estavam já tomadas pelos líderes – Sócrates, Sarkozy, Merkel e os seus pares – podem ser chumbadas pelos eurodeputados. E ainda bem: foi assim que se impediu que as 60 horas de trabalho semanal se tornassem regra (ao invés das 48 horas) e que uma qualquer empresa pudesse administrativamente cortar-nos a Internet por “mau uso” (ao invés de serem os tribunais a fazê-lo). Nada disto – e há muitos mais exemplos – é a feijões.

Ao contrário do Parlamento nacional, tolhido pela disciplina partidária, o Parlamento Europeu toma decisões mais imprevisíveis e dramáticas, como um bom parlamento pode ser. Na votação sobre os direitos de uso da Internet, a esquerda e os verdes convenceram os liberais a contrariar o bloco central europeu (de socialistas e conservadores) e com isso arrastaram até uma maioria de socialistas em nome individual. Uma coligação esquerda-verdes-liberais a defender um novo direito (de acesso à informação em rede) como outras diversas coligações poderão defender direitos sociais ou ambientais? Parece-me uma boa notícia.

A terceira razão é que, à medida que a crise se desenvolve, é cada vez mais difícil os 27 governos chegarem a compromissos que não sejam imposições dos grandes. É no Parlamento Europeu, por outro lado, que o debate de ideias mais profundo se vai fazendo de forma crescente – mais uma razão para querer participar na escolha de eurodeputados que cheguem lá com vontade (e capacidade) de fazer esse debate de ideias.

Releio as linhas que escrevi e – se querem que vos diga – acho fraco. O que está ali poderia ser dito sobre qualquer eleição. E esta não é uma eleição qualquer.

Por acaso do calendário, este ano vamos decidir sobre as três escalas: a europeia, a nacional e a local (para meu gosto, falta ainda a regional). Ou seja, do grande para o pequeno, podemos sair de 2009 muito diferentes de como entrámos. O ano da grande crise poderia ser o ano da grande transformação.

Do meu ponto de vista, é mesmo isso que deveríamos fazer. Não acredito que a lição da crise tenha sido aprendida; na primeira ocasião, os governantes, os banqueiros e os opinadores esquecerão tudo e voltarão aos velhos hábitos. E o preço de subestimar esta crise é alto: será não ter solução para a próxima.

Enquanto isso, a nossa situação continua injusta quanto já era: os que se sacrificaram pelas reformas são agora sacrificados pelo desemprego; os que se endividaram estão com a corda na garganta. Em Portugal, temos das famílias que mais pagam para ter os filhos na universidade, mas os jovens doutores ou engenheiros acabam a atender telefonemas no call center. Assim nunca daremos a volta por cima.

A sua demissão, caro eleitor, não sobressalta os líderes. Eles acham que têm a situação sob controlo e que as boas decisões já estão tomadas. Eu, pelo contrário, acho que um sobressalto só lhes faria bem: não vejo como sairemos da crise de forma satisfatória, se esta situação de base se mantiver. Quem tem razão? Pode ser que sejam eles, e eu não. Nesse caso, é simples. Vá votar noutro (ou noutra). Não vote em mim: prove-me que estou enganado.

Fonte: Público de 25.05.2009

BE apresenta tempo de antena ‘de terror’ para as Europeias

O BE apresentou hoje três «histórias de tirar o sono» que farão parte dos tempos de antena do partido para as eleições para o Parlamento Europeu e pretendem ser «uma ruptura» com a linguagem tradicional dos partidos políticos

Num dia, o primeiro da campanha oficial, em que a caravana do BE irá permanecer apenas em Lisboa, o cabeça-de-lista do partido às eleições europeias apresentou aos jornalistas as três curtas-metragens de três minutos que irão ser mostradas nos tempos de antena.

«São três histórias de tirar o sono», explicou Miguel Portas. As curtas-metragens – o «Fantasbloco» – são três «histórias fantásticas» que partiram de um desafio do BE ao jovem realizador português Manuel Pureza e que foram montadas por João Salaviza, que venceu no domingo em Cannes a Palma de Ouro para curtas-metragens.

«São uma importante ruptura com aquilo que é linguagem tradicional partidos políticos e incidem sobre temas que têm importância nesta campanha eleitoral», afirmou o candidato do BE ao Parlamento Europeu.

A série de curtas-metragens, que conta com a participação de actores e actrizes profissionais, é composta por três episódios dedicados à precariedade, saúde pública e Tratado de Lisboa.

Na curta-metragem dedicada à saúde vê-se uma recriação de uma operação, que é subitamente interrompida pelo médico, que pergunta: «Antes de prosseguir, confirme se o doente pagou a taxa moderadora».

Subentendendo-se que a resposta é negativa, ouve-se, de seguida, o médico a dizer: «Fechamos, então, sem repor o rim».

«O BE propôs o fim das taxas moderadoras, toda a oposição votou a favor, o PS votou contra», ouve em ‘voz off’ já no final da curta-metragem.

Durante a sessão de apresentação das curtas-metragens, Miguel Portas aproveitou para renovar as críticas às políticas de emprego e Segurança Social seguidas pelo Governo, cumprindo, assim, a promessa que deixou no fim-de-semana voltar «invariavelmente» ao tema do emprego.

«A maior das delapidações de recursos que temos neste país é o de termos uma geração que nasceu em Portugal, mas que já nasceu na União Europeia, na então CEE, e que não encontra meios nem forma de poder ter ou alcançar uma vida mais do que precária e que está condenado a ser adolescente em casa dos pais até aos 30 anos de idade», sublinhou o candidato do BE.

A este propósito, Miguel Portas voltou também a criticar a reforma da Segurança Social, considerando que «a maior reforma que o Governo se orgulha» é precisamente aquela que significa que «daqui a 40 anos qualquer jovem que hoje tivesse começado a descontar estaria a receber a sua primeira pensão daqui a 40 anos por metade do valor do seu salário».

O dia de campanha do BE termina ao final da tarde, com uma ‘arruada’ na Baixa de Lisboa, com ponto de partida marcado para a Brasileira do Chiado e o fim previsto para a Rua Augusta.