Moniz acusa António Costa de pressionar a Prisa


O ex-administrador da TVI, José Eduardo Moniz, acusou hoje o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, de ter pressionado os administradores do grupo Prisa na Media Capital para alterar uma reportagem emitida pela TVI.
Os acontecimentos remontam a 2005, altura em que António Costa assumia o cargo de ministro da Administração Interna. “Essa reportagem sobre o SIRESP acentuou os problemas”, revelou Moniz, centrando nesse episódio o início das “grandes pressões” políticas que redundaram na sua saída da empresa e na suspensão do programa de Moura Guedes, em 2009. “Depois dessa reportagem, o administrador Miguel Gil telefonou-me, dizendo que estava ser fortemente pressionado por António Costa, que queria modificar coisas que estavam erradas na reportagem. Gil foi encontrar-se nesse mesmo dia com Costa, numa atitude de subserviência que considerei lamentável”, revelou Moniz, garantindo que as queixas do então ministro socialista não tinham fundamento.
Segundo o ex-director-geral da TVI, as relações tensas com José Sócrates tiveram início ainda em 2001, quando ocupava o cargo de ministro do Ambiente. “A primeira vez em que percebi que Sócrates tinha alguma dificuldade na sua relação com os media foi em 2001, a propósito de uma reportagem sobre um aterro sanitário em Évora” contou Moniz, acrescentando que “a reportagem desagradou ao ministro do ambiente, que pediu ao jornalista para ver se a notícia não era transmitida. Nós passámos a reportagem e fui chamado por Pais do Amaral ao seu gabinete”. “Disse-me que era amigo de Sócrates, que nutria grande admiração por ele e que considerava a emissão da reportagem exagerada. E disse que não estava para ter problemas como n’O Independente, porque que não queria prejudicar os seus negócios por causa da informação da TVI”, indicou Moniz.

Um discurso repleto de acusações. Com o verbo “pressionar” a pontuar a maioria das declarações. O ex-director-geral da TVI, José Eduardo Moniz, acusou esta tarde o governo e a administração da Prisa de terem tentado alterar o “carácter da TVI”, através de condicionamentos à linha informativa do canal.
“O administrador Miguel Gil chegou a falar-me de pressões ao mais alto nível em Espanha. Nunca percebi se eram a nível governamental ou da casa real espanhola. O próprio Miguel Gil já achava excessivos os protestos e observações ao nosso trabalho”, contou esta tarde Moniz, na comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura, garantindo que sempre respondeu ao administrador que “não cederia” nos pedidos de suspensão do Jornal de sexta. “Se queriam mudar as coisas ou me demitiam ou rescindiam o contrato”, apontou Moniz.
O antigo director-geral da TVI revelou mesmo que o administrador Bernardo Bairrão, entretanto nomeado CEO, “foi repetidamente” ao seu gabinete, “com um ar desesperado e destroçado”, para contar-lhe as pressões que enfrentava por parte dos administradores da Prisa Juan Luís CébrianManuel Polanco, para suspender o noticiário apresentado por Manuela Moura Guedes. “Começava a revelar-se impotente. Ele queria a continuação do jornal, mas estava a ser pressionado e não conseguia encontrar uma saída”, explicou Moniz aos deputados.

“O ‘Jornal Nacional de Sexta’ foi pensado para mim”

“O ‘Jornal Nacional de Sexta’ foi pensado para mim próprio mas ao sentir que havia um incómodo com o meu regresso decidi que era para a Manuela Moura Guedes”, revelou José Eduardo Moniz aos deputados da Comissão Parlamentar de Ética. O ex-director-geral da TVI referiu ainda que em Junho de 2009 foi convidado para ficar apenas como consultor da televisão, admitindo que a sua relação com os accionistas maioritários da Prisa foram sempre complicadas e pioraram graças às notícias sobre o caso ‘Freeport’.

A compra da televisão pelo grupo espanhol Prisa foi apresentada como uma dificuldade pelo actual vice-presidente da Ongoing. ‘Logo percebi que a minha vida iria ser complicada’, disse aos deputados, garantindo que ‘a TVI nada ganhou com a sua entrada no capital, muito pelo contrário’.

Respondendo ao deputado socialista João Serrano, o qual referiu críticas da Entidade Reguladora da Comunicação Social e do Sindicato de Jornalistas ao ‘Jornal da Noite de Sexta’, José Eduardo Moniz estranhou que não fossem citadas igualmente as críticas ao encerramento desse espaço noticioso.

Além de reforçar que houve pressões para afastar vários ‘pivots’, nomeadamente Manuela Moura Guedes, José Eduardo Moniz disse que a administração chegou a indicar que a TVI deveria tomar posição a favor do ‘sim’ na campanha para o referendo do aborto, o que foi recusado pelo director-geral.

Pressões de Paes do Amaral

Moniz disse ainda aos deputados da Comissão de Ética que era um de quatro alvos da administração da televisão então presidida por Miguel Paes do Amaral. Os restantes seriam Manuela Moura Guedes, Miguel Sousa Tavares e Marcelo Rebelo de Sousa.

Segundo o jornalista, que foi levado para a TVI por Belmiro de Azevedo, a sua relação com Miguel Paes do Amaral foi sempre difícil. ‘Com a sua entrada, em Dezembro de 1998, senti-me um mal necessário. Era um garante da entrada de moedas na caixa registadora.’

Relatou aos deputados que em 2001, depois de uma reportagem sobre um aterro em Évora ter suscitado pressões do então ministro do Ambiente, José Sócrates, foi chamado por Miguel Paes do Amaral, o qual lhe terá dito que ‘não estava para ter os seus negócios prejudicados por notícias da TVI’, tal como teria acontecido quando era proprietário do semanário ‘O Independente’.

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