Relatório acusa ex-dirigentes da France Telecom de nada fazerem perante vaga de suicídios

Um relatório da inspecção do trabalho que investiga a onda de suicídios de trabalhadores da France Telecom acusa antigos dirigentes de topo de nada fazerem perante as consequências do seu plano de reorganização da empresa

O documento indica que os últimos suicídios na France Telecom «não são casos particulares» e estão relacionados com a política de reorganização e gestão posta em marcha a partir de 2006.

O diário francês Le Parisien publica hoje excertos do relatório, enviado para a Procuradoria de Paris, no qual a inspectora Sylvia Catala fala de «assédio moral» no seio do operador francês de telecomunicações.

Segundo a responsável, os mais altos cargos da empresa foram alertados «em diversas ocasiões» por médicos, sindicalistas e inspectores laborais sobre «os efeitos sobre a saúde dos trabalhadores» que estava a ter a política de reorganização da empresa.

Apesar disso, acrescenta o relatório, foram apenas aplicadas medidas para remediar o «sofrimento» do quadro de pessoal.

As acusações dirigem-se, em concreto, contra três directores, entre eles, o antigo presidente Didier Lombard, recentemente substituído no cargo por Sthéphane Richard.

A inspectora argumenta que os cerca de quarenta suicídios ocorridos nos últimos anos são consequência do ‘Plan Next’, posto em marcha em 2006 para melhorar o rendimento, eficácia e produtividade da empresa.

Esse plano previa a supressão de 22 mil postos em três anos e a transferência forçada de 11 mil trabalhadores.

Lusa / SOL

Na escola do professor que se matou os casos de violência são constantes

A família do professor Luís admite que “poucos, perante o mesmo problema, reagiriam desta forma” – o suicídio. Contudo, a sua irmã, também docente, questiona “quantos professores não se encontram neste momento de atestado médico ou a leccionar no limite das suas forças, por situações semelhantes?” Descreve o irmão como alguém “solitário, sensível e psicologicamente frágil” e com “dificuldade em se impor”. Mas insiste: “Será que um professor tem que ser um super-homem? Qualquer um, independentemente das suas características, não tem o direito a ser respeitado?”

Os desabafos fazem parte de uma carta que enviou em Fevereiro ao Conselho Pedagógico da escola, presidido pela directora da instituição, Cristina Frazão. Não teve resposta. Fez questão de dirigir a carta ao órgão. Queria que a falta de apoio às participações de alunos feitas por Luís (pelo menos sete) fosse o ponto de partida para uma “reflexão profunda” sobre a indisciplina. Mas a carta não passou das mãos da directora. Na Inspecção-Geral da Educação estão também pelo menos três queixas. A família aguarda agora os resultados do inquérito que o Ministério da Educação decidiu ontem abrir, depois de o director regional de Educação de Lisboa ter visitado a escola. À saída, José Leitão esclareceu que o objectivo é perceber se o suicídio foi uma consequência do bullying e afirmou que Luís apresentaria “uma fragilidade psicológica desde há muito tempo”. Estava na escola desde Setembro. Não aguentou seis meses de angústia. Não suportou a ideia de ouvir novamente que era um “cão” ou um “careca”. Não queria voltar a ser empurrado e a cair em público.

“Não foi só ele. Eu já fui empurrado, uma professora já desmaiou duas vezes. É constante e a direcção nada faz com as queixas e as pessoas têm medo”, contou ao PÚBLICO, sob anonimato, um dos docentes da escola. “Há umas semanas uma funcionária foi empurrada nas escadas por um aluno do 5.º ano. Contamos os dias para a reforma e quando temos oportunidade mudamos de escola”, disse outro docente.

Quando se suicidou, Luís estava há poucos dias de atestado, a conselho do seu psicólogo e da directora. “Recentemente e em consequência do stress inerente à sua actividade profissional, nomeadamente questões de indisciplina e mesmo ocorrências sentidas como actos de desrespeito por parte de alguns alunos, verifica-se um claro agravamento do seu quadro clínico”, lê-se num relatório do psicólogo.

A história é de Luís e da escola mas os sindicatos asseguram que traduz a realidade. O secretário-geral da Federação Nacional de Professores assume que são raros os casos extremos. Mário Nogueira atribui a situação à anterior tutela do ME por ter ajudado a “denegrir” a profissão de professor. “O pior que pode acontecer neste caso é desvalorizar-se a situação e dizer-se que só aconteceu porque era frágil. As pessoas não são frágeis. Têm momentos de fragilidade e é preciso agir preventivamente.” Opinião semelhante tem o secretário-geral da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação que diz que o que aconteceu a Luís pode ser vista como “uma doença profissional”.

Na escola, Luís pouco falava. Guardava para si o seu sofrimento. Óscar Soares, do grupo de professores contratados do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, a que Luís também pertencia, recorda-o como alguém que “se envolvia, entusiasmava e reflectia sobre as coisas”. Filomena Serrão trabalha na Câmara de Oeiras (onde o professor colaborava no boletim) e conheceu-o noutros tempos no Coro de Santo Amaro de Oeiras. “Uma pessoa muda muito em 20 anos mas recordo-o como um flautista fantástico. Nos últimos tempos cruzei-me pouco com ele, mas nada fazia prever isto.”

Mas Luís deixou avisos. “Em relação ao suicídio só tenho uma coisa a opor: será justo que os bons vão embora e fiquem cá apenas os medíocres?” Deixou a frase no seu computador.

Baptista Bastos- Resistir é uma forma de combater

Não há motivação, na sociedade portuguesa, que consiga alterar a inércia em que nos encontramos. Vem aí o PEC e o pouco que do documento sabemos deixa-nos desassossegados, mais desassossegados do que até aqui nos encontrávamos. Sócrates aparece, fala dois minutos, vai embora e lega aos outros a maçada de nos esclarecer. Nenhum dos membros do Governo, de plantão para a funçanata, esclareceu coisa alguma. Fomos sabendo do infortúnio que nos aguarda através dos especialistas em economia. E as informações, repito, são de molde a deixar-nos espavoridos.

O PEC é uma pouca-vergonha. Um trapo cheio de remendos. Uma negaça mal amanhada, com uns truques pelo meio, como aquele de se proceder a outra fiscalidade a quem aufira, por ano, mais de 150 mil euros. Somos nós quem vai pagar a crise. Nós, o resto, numeroso, dos portugueses para os quais nada se oferece e tudo se tira.

Toda a nossa vida tem sido um processo de demolição empreendido por este Governo (mas também por outros) que nos fez entrar na mais dolorosa letargia, porque nada nos acena a mais escassa e módica esperança. Sócrates serve-se de nós, com um impudor que raia a esquizofrenia. Qual o conceito que possui de poder? Democrático não é, certamente.

Este novo golpe do PEC nem sequer lhe mereceu o cuidado de ser explícito, claro, pausado e mobilizador, tendo em conta a brutalidade das propostas. Porém, já nos habituámos a estas manifestações de sobranceria. Os “intocáveis” continuam os mesmos. Os vencimentos sumptuosos talvez apenas sejam atingidos por pequenas amolgadelas. Nós é que vamos pagar tudo. E não somos culpados de nada. Os responsáveis do descalabro a que chegámos ficarão alegremente impunes, nem sequer o ferrete da indignidade nacional (que, em França, depois da guerra, se converteu em figura jurídica) lhes será aplicado. Esta gente faz o que quer, não presta contas (a penalização dos votos é uma rábula consecutiva) e passa à frente.

Este ciclo político que está moribundo terá continuidade no que se lhe segue. As indicações que temos dizem–nos que os candidatos à chefia do PSD, e um deles putativo candidato a primeiro-ministro, não harmonizam nenhuma ideia, diferente das que até agora têm articulado o nosso pobre destino. É tudo mais do mesmo: privatizações, entregar ao “mercado” a solução dos problemas, mesmo quando o “mercado” é o que é e o que nós sabemos, impostos directos ou indirectos – enfim, todo o breviário com que a globalização da economia, cega e surda, sobrecarregou as nossas já atávicas desgraças.

O Governo Sócrates não presta para nada. Está visto e provado. Mas as ameaças que se seguem fazem temer o pior. Os Governos, perante a abertura dos mercados, tal como as redes de comércio, e as estratégias planetárias das grandes empresas, encontram-se fragilizadíssimos. Todavia foi a inacção da política que permitiu a sobreposição da economia. É preciso entendermos que a nação deixou de ser o quadro simbólico e territorial como anteriormente se conhecia. Não mandamos em nada do que julgávamos nosso. Porque também é preciso compreender que a zona a que chamávamos “pátria” não nos pertencia: era propriedade dos grandes cavalheiros da indústria, dos latifundiários e de um ou dois grupos financeiros. Quando apelam à nossa colaboração (nos sacrifícios económicos como nas guerras e em outras manifestações de falsa posse) apelam que façamos a defesa daquilo que nos não pertence.

O que, neste momento, é de nós exigido, melhor: que nos é rudemente imposto por um Governo, dito, mentirosamente, de “socialista”, faz parte do discurso do poder quando o poder se sente cercado. Deixámos, há muitos anos, de proceder de fontes directamente culturais e de valores que haviam instituído uma certa maneira de viver. Este Governo e os que o antecederam (sublinhando a calamitosa herança de Durão Barroso e o intermezzo cómico de Santana Lopes) depredaram o que ainda existia (a década cavaquista foi o prelúdio à fatalidade) de sentimento de comunidade, de laços afectivos de solidariedade e de “presença.” Todos os políticos nomeados estavam desprovidos de sentido cultural e, em muitos casos, manifestavam liminar ignorância. Recordo-me de, certa vez, conversando, com Eduardo Prado Coelho, sobre Durão Barroso, com quem ele simpatizava, o meu amigo, como que a defendê-lo, disse: “Mas olha: é leitor de Maria Gabriela Llansol.” Fiquei calado de espanto.

Estas minhas inquietações e, amiudadas vezes, a veemência com que defendo ideias, não é de agora. Vem de muito longe. Desse imperativo que sempre me impeliu a criticar posições de recuo e de fechamento, sobretudo em relação àqueles, politicamente com responsabilidades histórica, que traíram os testamentos e espezinharam sonhos e esperanças.

No entanto, vale a pena acreditar porque vale a pena resistir: resistir é uma forma de combater.

b.bastos@netcabo.pt

Vaticano: três mil acusações de pedofilia contra padres entre 2001 e 2010

Cerca de 3000 acusações de pedofilia contra padres foram tratadas pela justiça do Vaticano entre 2001 e 2010 por casos ocorridos nos últimos 50 anos, indicou hoje um responsável do Vaticano.

“De 2001 a 2010”, houve “cerca de 3000 acusações contra padres diocesanos ou religiosos por crimes cometidos nos últimos 50 anos”, declarou monsenhor Charles J. Scicluna do Ministério Público do Tribunal da Congregação para a Doutrina da Fé numa entrevista ao Avvenire, jornal da Conferência Episcopal italiana.

“Cerca de 60 por cento dos casos referem-se a atos de ‘efebofilia’, ou seja, atração física entre adolescentes do mesmo sexo, 30 por cento a relações heterossexuais e os restantes 10 por cento a verdadeira pedofilia, ou seja, uma atração sexual por rapazes impúberes”, refere o prelado.

Para Scicluna, “em nove anos, os casos de padres acusados de pedofilia são, portanto, cerca de 300”. “Demasiados, é certo, mas é necessário constatar que o fenómeno não está espalhado como se quer fazer crer”, adianta, recordando que há cerca de “400 mil padres diocesanos e religiosos” em todo o mundo.

Em 10 por cento das denúncias, “casos particularmente graves com provas indubitáveis”, os culpados foram reduzidos ao estado laico, ou seja, não podem mais dar sacramentos, precisou.

Na mesma proporção, são os próprios padres que pediram para ser libertados dos seus deveres sacerdotais.

Na muito grande maioria dos casos (60 por cento), “principalmente por causa da idade avançada dos acusados, não se inicia qualquer processo, mas são tomadas medidas disciplinares” como a “da interdição de celebrar a missa em público e de confessar, ou a da obrigação de levar uma vida retirada e de penitência”, explica Scicluna.

Para os restantes 20 por cento, “o processo penal ou administrativo” realizou-se “na diocese de competência”.

A maioria das denúncias emana dos Estados Unidos, “cerca de 80 por cento dos casos entre 2003 e 2004”, uma proporção que caiu para “25 por cento dos 223 novos dossiers provenientes do mundo inteiro” em 2009.

Entre 2007 e 2009, “a média anual dos casos assinalados foi de 250”, sublinha Scicluna, acrescentando que muitos países “apenas assinalaram um ou dois casos, apesar de estar a aumentar o número de países”.