REDE AIMP-ABERDEEN, ESCÓCIA: Enquanto o Ocidente assiste à terceira crise do petróleo em cerca de 30 anos, as petrolíferas causam fúria no Mercado ao consumidor, anunciando biliões de euros de lucro em apenas três meses de exercício (Janeiro a Abril do corrente ano). Mas a crise tem contornos sinistros, que vale a pena explorar.
Veio finalmente à tona esta semana, que a crise, ao contrário do que têm dito as petrolíferas e os especialistas do establishment do crude, não se deve tanto à crescente procura de crude, pelas economias emergentes da Ásia, nomeadamente a China e a Índia, mas sim porque estes países, em particular na China, o Estado tem mantido os preços artificialmente baixos, subsidiando fortemente o preço ao consumidor nos respectivos mercados internos.
Já há vários meses que se sabia de graves distúrbios na China, em resultado do aumento de preços de bens essenciais. Neste país, o aumento de preços é claramente a razão principal de medo das autoridades em relação à revolta popular, sendo uma matéria de enorme sensibilidade na China, tendo causado graves complicações, ainda recentemente, por causa do aumento do preço do arroz. Não admira portanto que o Governo Chinês procure evitar maiores e mais graves problemas, subsidiando desesperadamente o preço do crude, mantendo assim a procura em alta.
O caso veio a causar ondas de choque no Ocidente, com governos e organizações internacionais a iniciar lobbying collectivo no sentido da China suspender os subsídios ao consumo de combustíveis.
Há porém algo de verdade no argumento que defende que o aumentoa procura mundial acrescido pela sede insaciável dos mercados asiáticos tem umpurrado o preço do crude constantemente, numa curva ascendente que parece imparável.
Satisfazer a sede do grande Dragão Chinês é o problema principal. Este ano, importação de crude pela China subiu 40%, esperando-se que até ao fim de 2008, a China tenha importado cerca de 100 milhões de toneladas. As reservas de crude em jazidas chinesas, a este rácio de consumo, durarão menos de 20 anos, tendo a China passado de exportador de crude, a importador em 1993. Neste momento, cerca de 70% das importações chinesas chegam do Médio Oriente e dos países árabes. Esta região detém 61% das jazidas totais de crude mundiais. Recentemente, a China tem manobrado diplomaticamente em África, que possui perto de 6% das reservas.
O problema com a sede de crude da China é evidente e tende a piorar, porque o consumo de 2008 (100 milhões de toneladas) é apenas um terço das necessidades totais deste país, uma vez a respectiva economia a funcionar em completa dependência do petróleo.
O caso da Índia é menos preocupante, mas em conjunto com a China, constituem ambos as super-potências do futuro, não necessariamente à custa do desaparecimento dos Estados Unidos enquento potência máxima a nível mundial.
O caso europeu
O panorama geral em termos mundiais representa um desafio para a Europa. Detentora de 12.5% do total mundial de jazidas, a Europa depende da rentabilidade sustentada das jazidas do Mar do Norte, com a Noruega e o Reino Unido no topo da lista de exploração. A Rússia, com reservas riquíssimas de gás natural—tem reservas para algumas centenas de anos, segundo algumas fontes ocidentais não confirmadas—consegue assegurar o consumo europeu de gás natural, pelo menos no Norte. Os países do Sul da Europa poderão estar mais dependentes de exportadores como a Argélia, por exemplo.
Em termos gerais, não existe escassez, nem de crude, nem de gás natural, em termos de reservas em jazidas fósseis, quer em terra (onshore), quer nos mares e oceanos (offshore). No caso particular das jazidas offshore, o problema é porém complexo. Os custos de exploração são elevadíssimos, pelo que a política seguida pelas petrolíferas é de não explorar até que o preço ao consumidor justifique os custos de exploração. Aqui começa parte do problema com a escassez, não em termos de jazidas, mas sim em termos de crude extraído a níveis que consigam satisfazer as necessidades.
Por um lado, as petrolíferas preferem explorar offshore desde que tal se justifique por comparação com o rendimento previsto em termos de preço de venda. Por outro lado, esta política conduz a escassez no fornecimento, causando alta de preços, sendo as petrolíferas o principal beneficiário desta situação, que gera lucros astronómicos.
Quase se poderia dizer “para quê investir em novas explorações, se assim fazemos rios de dinheiro?”. Este é de facto o problema. Companhias petrolíferas estão felizes com as explorações de jazidas de acesso fácil, mas num momento em que é preciso investir em jazidas de difícil acesso, preferem manter os preços altos em resultado de escassez, criando lucros enormes, em vez de investir a preços que rondam os 800.000 Euros por dia. É sabido na indústria que existem 193 licenças novas de exploração de jazidas virgens no Mar do Norte, correspondendo a cerca de 27 biliões de barris, apenas uma parte do total de jazidas ainda não exploradas no Mar do Norte. É igualmente sabido de sobejo há muito tempo na indústria petrolífera, que a nível mundial, 80% das jazidas offshore a profundidades marítimas elevadas, são virgens e ainda não foram perfuradas. Mais uma vez o mesmo problema, isto é, as companhias não as querem explorar porque custa muito mais caro extrair o crude em poços de grande profundidade.
A situação é escandalosa, e o desplante das petrolíferas não o é menos. Há poucos dias, numa Cimeira entre o Governo Britânico e os patrões das petrolíferas, o primeiro Ministro Gordon Brown solicitou que se aumentasse a produção (extracção) nas jazidas existentes e se iniciasse a perfuração das licenças de extracção de grande profundidade no Mar do Norte. Os patrões das petrolíferas poderão concordar, mas é provável que queiram contrapartidas governamentais, isto é, dinheiro dos cofres públicos como incentivo à exploração de jazidas de grande profundidade. Apesar dos lucros imensos que fazem!!!
Política e Imoralidade?
Nada é simples e nem sempre aquilo que parece é na indústria petrolífera. Um caso que raramente é mencionado pela Imprensa, é o das manobras de bastidor, que o público em geral ignora, mas não deixam de ter interesse. A exploração petrolífera offshore depende fortemente do apoio das frotas de navios e de empresas de contratação de…equipamentos. O gigante mundial desta indústria, Halliburton Inc., uma multinacional americana com operações em cerca de 120 países, e que operava no Mar do Norte, tem vindo a descontinuar operações nesta zona do globo, sendo substituída por subsidiárias, que antes faziam parte integrante e depois passaram a ser companhias independentes. Mas o grande interesse desta história aparentemente inocente, é que segundo reclamam algumas vozes algo ruidosas, ainda que por vezes não haja certezas quanto à veracidade dos factos, a política e os interesses corporativos interligam-se, às vezes com contornos obscuros. Dick Cheney, Vice-Presidente dos Estados Unidos da América, foi—pasme-se! – Presidente Executivo da Halliburton Inc. The Oil Boys da Administração de George Bush não dormem e já desde o final dos anos 90 que um plano de construção da uma conduta transcontinental de crude e gás, existe, para canalizar produto dos poços riquíssimos de países como o Kasaquistão, Turquemenistão, etc… Há quem afirme que o desinteresse da Halliburton em investir no Mar do Norte passa pelo Xadrês político/estratégico do investimento onde há maiores probabilidades de lucro fácil. Mas há um senão! A conduta transcontinental terá que atravessar o Afeganistão e o Paquistão, até Karachi, no Golfo de Omã. Talvez à luz destas manobras se perceba que os conflitos armados no Afeganistão e a presente situação envolvendo as lutas “pela Democracia” contra o Talibã, tenham conteúdos intencionais não declarados, de interesse estratégico para os patrões do Capital do Ouro Negro, que não passam de todo pelo Apostolado da Democracia, antes, moram no Bolso dos accionistas e nas carteiras das bolsas internacionais.
Em face dos factos, dos números e do xadrês geral conhecido, há pelo menos duas certezas. A primeira, de que não há falta de crude e gás debaixo da crosta terrestre, pelo contrário. A segunda, não é provável que nós, comuns mortais venhamos a beneficiar da quantidade disponível, porque há demasiados jogadores neste tabuleiro de interesses, em que meia dúzia de gordos gatarrões controlam a produção, os custos, os preços, a distribuição e portanto podem impoôr a seu bel-prazer toda a sorte de caprichos aos governos, estes impotentes para controlar estes senhores do crude.
Será que estamos entalados?… Pelos vistos, provavelmente…
In “Forum Democracia Real”