Liberdade, eis a questão

por BAPTISTA-BASTOS

A questão é esta: há liberdade de imprensa em Portugal? É ociosa, a pergunta, para quem, como eu, vem do tempo em que se escrevia baixinho, tão baixinho que perdêramos muitas das palavras, por mudez e falta de uso. Já me não surpreende a desvergonha de alguns daqueles que têm desfilado nas televisões a proclamar que vivemos numa asfixia. Mas indigna-me o silêncio calculado dos que se não erguem a protestar contra a ambiguidade do assunto.

O alvo, naturalmente, é e tem sido José Sócrates. O homem mente compulsivamente, denegou os testamentos da esquerda, bandeou-se com a direita procedendo às mais graves traições, não possui bússola ideológica, ignora o que são convicções, é destituído de compleição de estadista e cultiva uma mediocridade feliz dissimulada numa incontinência retórica que, amiúde, o emparelha com um vendedor de feira.

Depois disto e com o desenrolar de acontecimentos que o perseguem, porque por ele próprio provocados -, chega-se a este melancólico resultado: José Sócrates é tolo, ingénuo ou extremamente sinistro. As escutas esclarecem não só os contornos desses defeitos como no-lo dizem da desastrosa escolha das suas companhias e das relações perigosas que tem sustentado. Enfim: Sócrates não tem amigos; tem instantes de amizade.

Os documentos agora revelados e alguns esparsos factos ocorridos alinham-se como consequências uns dos outros, e apontam para o primeiro-ministro, sublinhando os defeitos por mim acima indicados com amena benevolência. Se havia um plano tenebroso para controlar a comunicação social; se a censura está instalada no cerne da sociedade portuguesa, é bom que se crie a tal Comissão Parlamentar de Inquérito, a fim de se averiguar a extensão e a natureza do crime – como será urgente que os jornalistas vítimas do fluxo censório venham à praça queixar-se das suas desventuras.

Há algo de torpe neste alvoroço. Um ex-ministro, agora protestador grave e atroz, foi, na sombria década cavaquista, controleiro da RTP. E um dos agora acusadores da falta de liberdade era o zeloso varejeiro do noticiário. Não cauciono, de forma alguma, tentativas de domínio da imprensa pelo poder político. Mas não colaboro neste imbróglio, que tem estimulado a perda do sentido das coisas e a adulteração da verdade histórica. A reabilitação de falsos fantasmas apenas serve para se ocultar a medonha dimensão do que ocorreu na década de 80. Os saneamentos, a extinção de títulos, a substituição de direcções de jornais e a remoção de jornalistas incómodos por comissários flutuantes eram o pão nosso de cada dia. Já se esqueceram?

Ronda negocial sobre horários dos professores foi uma “frustração”

A Federação Nacional de Professores (FENPROF) manifestou hoje a sua “frustração” perante a inexistência de uma contraproposta da tutela para alterar os horários dos professores e acusou o Governo de desinvestir na Educação.

“É uma frustração grande o que daqui se leva, que é zero”, disse o secretário geral da FENPROF, Mário Nogueira, no final de um encontro de quase três horas com os responsáveis do Ministério da Educação para debater os horários dos professores.

“Recordo que a senhora ministra tem vindo a afirmar que reconhece que os horários dos professores são desadequados do ponto de vista daquilo que é a exigência pedagógica que o professor tem e, portanto, aquilo que os professores hoje estavam à espera era que houvesse uma contraproposta do Ministério no sentido de alterar a legislação, quer em relação à sua componente letiva, quer não letiva”, referiu.

Mário Nogueira sublinhou que os professores não querem menos horas de trabalho, mas sim “que a organização do trabalho dentro do horário estipulado por lei seja feita de uma forma que permita dar qualidade ao ensino e ao desempenho dos professores“.

Segundo o secretário geral da FENPROF, o Ministério da Educação invocou motivos de “ordem financeira, social e política” para não aceitar as alterações propostas pelos sindicatos, não havendo assim “nenhuma proposta a apresentar”.

Assim, aquilo que a tutela apresentou aos sindicatos “são apenas pormenores irrelevantes para efeitos dos horários dos professores”, garantiu Mário Nogueira, dando como exemplo “o fim da [obrigatoriedade da] prova de recuperação dos alunos” com excesso de faltas.

“Mas isso são gotinhas de água no meio da grande problemática dos horários dos professores”, afirmou o sindicalista, criticando as “opções do Governo”.

“Se o Governo quer ter dinheiro para pagar aquilo que é a dívida do BPN, BPP e tudo isso que é o despesismo deste país, não pode evidentemente investir na educação. E não investir na educação quer dizer poupar na qualidade do ensino e penalizar as nossas crianças e jovens”.

A FENPROF voltará a reunir-se com a equipa ministerial na próxima sexta feira, 19 de fevereiro.

“Sentir sinta quem lê”

"Sentir sinta  quem lê"

Há muito que desisti de acompanhar cada crónica de um manual de instruções, assim a modos como S. João: “Aquele que tiver entendimento que calcule o número da Besta”. Mas certas reacções à de ontem sobre uma manifestação dita “pela liberdade” fazem-me cair no pecado da interpretação autêntica (e da condescendência), bem sabendo que a única autenticidade é a da leitura e que a leitura tanto dá para calcular o número da Besta como sendo o de Nero como o do Papa.

Também eu acho que os documentos revelados pelo “Sol” põem uma questão política e não jurídica, e também que essa questão é a da liberdade de informação. Como o foi – o meu mal é andar por jornais há muito tempo – quando, sem desfiles de branco, Marques Mendes ditava à RTP o alinhamento do Telejornal e Cavaco procurava calar o “Independente”, ou quando o PCP fez o mesmo à “República”. Depois, quero crer que direitos políticos, económicos e sociais são inseparáveis, que não há liberdade sem igualdade nem igualdade sem liberdade. Já o “vestidos de branco” é folclore; prezo de mais a singularidade e a individualidade para gostar de fardas.

Milhares manifestam-se em Atenas e Salónica contra cortes salariais

Por Agências
Yiorgos Karahalis/Reuters
Os manifestantes contestam a redução do salário real, as restrições à contratação e a supressão de benefícios fiscais

Os cortes salariais justificados pelo Governo grego com a crise económica e financeira em que se encontra o país levaram hoje para as ruas de Atenas e de Salónica mais de dez mil pessoas. O protesto decorreu em dia de greve geral contra os “sacrifícios injustos e ineficazes” do plano contra a crise do primeiro-ministro, Giorgios Papandreu.

Ao final da manhã, o Adedy, principal sindicato dos funcionários públicos do país, contou pelo menos cinco mil dos seus membros nas ruas da capital grega e três mil outros em Salónica, no norte da Grécia. Por sua vez, a Frente de Luta sindical (PAME), que deriva do ultra-ortodoxo partido comunista, confirmou que conseguiu reunir cerca de cinco mil militantes numa outra manifestação também em Atenas.

Apesar dos protestos em separado contra a redução do salário real, as restrições à contratação e à supressão de benefícios fiscais, os manifestantes das três estruturas mostraram-se unidos na motivação para a contestação. “Não devemos pagar a crise”, gritaram uns, “Greve contra os especuladores”, escreveram outros em cartazes, onde apelaram ainda à união numa resposta contra “os banqueiros, armadores e grandes empresas”.

Em Atenas, a polícia de intervenção grega chegou a lançar gás lacrimogéneo sobre os manifestantes. Segundo as autoridades, a decisão foi tomada depois de funcionários de recolha de lixo terem tentado quebrar um cordão policial com os seus camiões para se juntarem aos manifestantes que seguiam a pé pelas ruas da capital. À agência Reuters, um oficial da polícia afirmou que alguns manifestantes responderam à acção das autoridades lançando-lhes pedras. “Mas o incidente foi rapidamente resolvido”, sublinhou.

Grécia a meio-gás

As manifestações decorrem em dia de greve geral no país, que está praticamente parado dada a adesão de funcionários dos vários sectores à paralisação. Ainda não existem números oficiais de adesão, mas os funcionários dos ministérios, finanças e autarquias e professores estão entre os grevistas, bem como os controladores aéreos, o que levou a que as duas grandes companhias aéreas gregas, a Olympic Air e a Aegean, tenham anulado todos os voos de hoje.

O organismo nacional dos caminhos de ferro reduziu também o número de comboios nas ligações internas, devido à greve de nove horas da Federação Nacional de Caminhos de Ferro , mas as ligações internacionais não foram afectadas pela paralisação.

Nos hospitais públicos, os serviços estão a ser prestados por pessoal mobilizado para suprir as faltas dos que aderiram à greve.