Saraiva acusa Vara de querer “decapitar” jornal ‘Sol’


Tribunais encobrem política

Saraiva acusa Vara de querer “decapitar” jornal ‘Sol’ (ACTUALIZADA)

O director do semanário ‘Sol’ disse esta sexta-feira ter a certeza que o BCP, através do administrador Armando Vara, quis “decapitar” o jornal e que a relação com o banco tornou-se “hostil” depois de publicadas notícias sobre o caso Freeport.

“Ficou claro que o BCP queria decapitar a direção do ‘Sol'”, referiu José  António Saraiva no Parlamento, adiantando ter “a certeza absoluta que esta  situação, pelo menos na recta final, foi comandada por Armando Vara”.

O BCP, que foi accionista fundador do semanário dirigido por José António Saraiva, “começou por ser nosso amigo, mas transformou-se num cavalo de  Tróia”, disse. O director do jornal reiterou ainda que depois de ter publicado uma notícia sobre  o caso Freeport, um subdiretor do jornal “recebeu um telefonema de uma pessoa  muito próxima do sr. primeiro ministro” que “disse que a relação do banco com o jornal dependia da próxima manchete”.

‘Penso que se pode dizer mais, há encobrimento do poder político pelo poder judicial. Há factos suficientes para se poder afirmar que há encobrimento’,  acrescentou José António Saraiva, na comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura a propósito de alegadas intervenções do Governo na comunicação social.

A edição desta sexta-feira do ‘Sol’ refere que o Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, foi informado pessoalmente de escutas que estavam a decorrer no âmbito do caso ‘Face Oculta’ e afirma que, ‘a partir desse dia, as conversas mudam de tom e há troca de telemóveis’.

“Tenho a certeza absoluta, pelo menos na parte final [da negociação de venda da quota do BCP no Sol à Newshold] que foi comandada directamente pelo dr. Armando Vara”, garantiu José António Saraiva. O representante do BCP, Paulo Azevedo, “disse várias vezes que tinha que falar com Armando Vara porque não tinha autonomia para tomar decisões”, acrescentou o director.

Há uma semana, Armando Vara veio à Comissão de Ética negar qualquer responsabilidade no dossier do jornal no BCP, dizendo mesmo que isso estava entregue a outras pessoas e departamentos.

José António Saraiva acusou mesmo: “Ficou claro que o que o BCP queria era decapitar a direcção do Sol e interromper a sua publicação”, ao afirmar, primeiro, que estava vendedor da sua parte no jornal e depois, quando os investidores angolanos quiseram negociar, recuou e disse não estar vendedor mas comprador. E nessa altura, “queria mudar” a cláusula que impõe que quem comprasse se comprometia a manter a direcção.

Tendo o BCP sido “um amigo” e accionista desde o lançamento do jornal, a mudança de atitude foi “coincidente com a entrada da administração Santos Ferreira/Armando Vara”. Aí, “o BCP transformou-se num cavalo de Tróia”, disse José António Saraiva, contando os pedidos ignorados de reuniões, a retirada de um patrocínio do BCP que estava pelo menos “verbalmente” combinado, e os “meses terríveis” de dificuldades financeiras que o jornal passou entre o final de 2008 e os primeiros meses de 2009.

Sobre a situação geral da comunicação, questionado pelo social-democrata Pedro Duarte, Saraiva disse-se “chocado” quando vê “pessoas responsáveis do PS a dizer que não se passa nada”.

“Os factos que têm vindo a público através das escutas são absolutamente chocantes. Faz-me lembrar o Iraque, quando choviam mísseis e o ministro da Informação continuava a dizer que não havia nada”, comparou.

Saraiva salientou que esta Comissão de ética existe porque “as escutas foram reveladas” e mesmo depois disso “as pessoas continuam a dizer que é falso”. “As escutas são a prova cabal e insofismável e a única maneira que tivemos de provar que havia em marcha um plano para controlar a comunicação social.”

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